Governança Democrática - 3ª Edição | Page 173

que não “satisfazem” a ninguém, e que em uma época de poucos recursos deslegitimam a política eleitoral. O crescimento pelo crescimento, como assinala Capra, é crescimento cancerígeno (também em termos de propostas eleitorais), que mata a própria classe política, e com ela, a democracia.3 Uma analogia com o esporte pode servir para ilustrar. A liderança capacitadora é o jogador que arma o jogo de sua equipe para que todos os jogadores obtenham o máximo rendimento de si mesmos. Ao contrário, o dominador é aquele jogador que toda a equipe joga para ele, para que seja decisivo. Por isto, a liderança dominadora crê que os membros da sua equipe têm pouco valor e necessita que todos se ponham a seu serviço, ainda que seja para o fim coletivo de vencer. Frequentemente se entendeu a liderança como aquela situação na qual uma pessoa tem a capacidade de expressar as necessidades e sentimentos da coletividade, fazer propostas, desenhar o futuro da coletividade e assumir todo o risco da sua realização, fazendo com que, deste modo, a cidadania siga confiando nela. É a figura do líder “caudilhista”. Em situações de crise aguda, esta liderança pode ser possível, porém em absoluto é desejável, por suas conotações autoritárias, e porque implica uma situação de desorganização social ou comunitária. Por outra parte, em uma sociedade que avança na era das redes e do conhecimento, este tipo de liderança é de todo inadequado, produz graves fraturas no sistema de relações sociais e dificulta a constituição de redes. O líder representativo também necessita expressar os desafios, emoções e sentimentos da cidade, porém o faz a partir da consulta, isto é, da construção coletiva. Entenda-se bem. Em outras palavras, na busca do diálogo, da consulta, da participação, sem deixar de dispor de ideias e de gerar emoções e sentimentos. 3 CAPRA, F. La trama de la vida. Barcelona: Anagrama, 1998. Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades 171