Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 70
Maria Rosaria Manieri
De resto, “estamos realmente certos – pergunta-se Mar-
ramao – de que os temas da solidariedade e do vínculo comuni-
tário se encontram já adequadamente acolhidos nas grandes
equações do universalismo?”. 67
Portanto, uma reflexão sobre os princípios fundamentais
do universalismo moderno, a partir dos paradoxos de sua forma
histórica de efetivação, é iniludível.
Será que não sofremos as consequências de um raciona-
lismo que, em seu caminho histórico, dos três princípios funda-
mentais em que se apoiava deixou para trás o da fraternidade?
Por outra parte, a manifestação, de modo cada vez mais
ampliado, de “fundamentalismos nativos” faz reemergir sob
formas ainda mais agudas em tempos de crise o antigo e sempre
renovado medo do outro, terreno privilegiado, este, de investi-
mento por parte das políticas reacionárias.
É o medo do outro que leva a transformar o multicultura-
lismo em multicomunitarismo, através do qual as diversas comu-
nidades se constroem como fortins sitiados nos quais “sentar-se
à mesma mesa com ‘estranhos’, visitar os mesmos lugares, cami-
nhando lado a lado, para não falar de enamoramento e matri-
mônio fora do círculo, são sinais de traição e motivo de ostra-
cismo e proscrição”. 68
A percepção da diversidade como ameaça nasce da insegu-
rança e da exclusão, que levam ao isolamento comunitário. Ao con-
trário, prever condições universais de direito à segurança e à tole-
rância, como compreensão recíproca, tende a estabelecer formas
concretas de coexistência civilizada entre povos e culturas.
67 Marramao, Passaggio a Occidente, cit., p. 187.
68 Z. Bauman, Voglia de Comunità, Roma-Bari, Laterza, 2007, p. 137.
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