Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 35
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
A ética cristã do mútuo amor é uma ética da salvação que se
manifesta no sacrifício de si e no serviço ao próximo mediante
as obras de misericórdia e o anúncio da boa nova. À parábola do
bom samaritano se fazem acompanhar as da ovelha desgarrada
e do retorno do filho pródigo.
A fraternidade cristã é por natureza missionária. Una é a
Verdade, uno é o Bem. O que os homens são chamados a realizar
é uma comunhão de fé e militância. Portanto, a única comuni-
dade que a ética cristã do mútuo amor constrói é a Igreja, o
corpo místico que liga os homens em seu exílio terreno, à espera
da ressurreição e do Reino de Deus.
A irmandade cristã propõe um ideal de perfeição moral,
não um problema de organização social; exige a conversão do
coração, não o esforço da razão. É a lição do Sermão da Mon-
tanha, pela qual o homem mata mesmo quando só irascitur
fratri; comete adultério mesmo quando se limita a moechari in
corde suo; não ama o próximo, mesmo quando não ama o pró-
prio inimigo.
O completamento da lei se faz na realização de uma justiça
superior à terrena e exterior, porque concebida como cumpri-
mento de uma vontade transcendente e onipotente na qual se
funde com a sapiência, a bondade e a misericórdia. Ela refere-se
mais à interioridade do homem, à intimidade de sua consciência
do que à sua dimensão pública: Attendite ne iustitiam vestram
faciatis coram hominibus, ut videamini ab eis (Mateus 6, 1).
Comenta François Mauriac: “O crime dá-se [...] já antes do ato: o
opróbrio reflui para o interior, remonta à fonte. Mais do que
qualquer maldição, estas palavras reduzem a nada a justiça dos
fariseus. Doravante, o drama se desenrola dentro de nós, entre
nosso mais oculto desejo e este Filho do Homem que se esconde
na intimidade dos corações. A virtude dos fariseus, como o vício
das cortesãs e dos publicanos, não passa de mera aparência. Para
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