Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 20

Maria Rosaria Manieri “permanecem estritamente locais, quando o drama contempo- râneo é uma produção que abraça toda a humanidade”. 5 O Ocidente – diz Giacomo Marramao – tem dificuldade em interpelar a diferença que, antes, encontrava nas próprias fron- teiras e resolvia com o tratado ou a guerra e que, agora, está nas próprias cidades. 6 O paradoxo está no fato de que nossas interconexões e nossa interdependência já são globais. “Hoje – escreve Peter Singer – as pessoas estão ligadas de modo antes inimaginável”. 7 Qualquer coisa que ocorra num lugar influencia as vidas e as possibilidades de vida das pessoas em todos os outros lugares. “Nenhum território soberano – sublinha Zygmunt Bauman –, por maior, m ais populoso e rico em recursos que seja, tem con- dições, por si só, de proteger as próprias condições de vida, a segurança, a prosperidade a longo prazo, o modo de viver prefe- rido ou a segurança de seus habitantes [...] já somos, e permane- ceremos por tempo indefinido, objetivamente responsáveis uns pelos outros. Mas existem poucos sinais, para não dizer nenhum, de uma disposição, por parte dos que compartilhamos o pla- neta, para assumir de bom grado a responsabilidade subjetiva por esta nossa responsabilidade objetiva”. 8 Por isso, como nunca antes deve-se levar a sério a adver- tência de John Donne, para quem as palavras: “Não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti” representam a solidariedade autêntica de nosso destino; “no entanto, a questão é que por ora a nova solidariedade de destino não se faz absolu- 5 Z. Bauman, L’etica in un mondo di consumatori, Roma-Bari, Laterza, 2010, p. 29. 6 G. Marramao, Passaggio a Occidente, Turim, Bollati Boringhieri, 2009. 7 P. Singer, One World. L’etica della globalizzazione, Turim, Einaudi, 2003, p. 12. 8 Bauman, L’etica in un mondo di consumatori, cit., p. 26-27. 18