Fluir - nº 7 - Abril 2021 | Page 58

A Luz

Pedro Malaquias
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Segundo as Escrituras , quando Arnaldo se embrenhou na floresta em busca da Luz , eram já quase 9 da noite e o dia já pouca luz ia tendo . Foi por isso já ao lusco fusco que avançou por entre as densas ramagens , evitando tropeçar nas raízes salientes com que aquelas árvores monstruosas se agarravam ao chão , desafiando o tempo e as tempestades . Com o bordão em riste , feito sabre , ia afastando da frente os ramos e silvas e mato que lhe impediam a marcha e a visão . E foi justamente por não ver e por ser muito o mato e vigoroso o gesto com que ia abrindo caminho , que o bordão , em riste feito sabre , acabou por atingir violentamente uma colmeia de abelhas assassinas , que se escondia , discretamente , nuns ramos à altura da sua cabeça . O pânico gerado entre a população dos pequenos insectos formou de imediato uma densa nuvem em torno da cabeça e ombros e braços e mãos e tudo de Arnaldo . Naquele momento não sabia o que o assustava mais , se o zumbido infernal que de repente o envolvia , ou o ataque brutal daqueles seres , que nem tempo chegou a ter para identificar . Passado o choque inicial , foi quando começou então a sentir que todo o corpo estava a ser picado violentamente , num frenesim diabólico . Aí voltou a agitar o bordão , agora com outra e renovada violência , lançando imprecações e impropérios . Quem o visse , parecia que dançava uma bizarra e endemoninhada dança macabra .
Mas os que realmente tinham Deus no coração perceberam que ele tinha finalmente encontrado a Luz . E ficaram felizes por ele .