Fluir - nº 7 - Abril 2021 | Page 25

Sète

Maria João Cantinho
Do alto vês agora esse espelho azul e a deitada fulguração do mar , serpenteando entre os canais , desenhando a perfeição desta manhã de verão . fora e dentro de mim , regresso à voz , no infinito recomeço do canto . « La mer , la mer , toujours recommencée !!»
A luz do vento , em irisada dança , desalinha-nos o coração e uma voz nasce , entre as águas , fazendo-se poema , arrebatando-nos , enquanto os barcos desaparecem no longe como sonhos esvanecidos .
Escreves a fogo e a água , escreves E cantas baixinho esse verso que te assalta : « Qu ' un long regard sur le calme des dieux !»
E sou arrastada pela tua voz assim , chegando-me secreta do passado , numa embriaguez de imagens , Passado e presente , acenando-me .
Talvez por estar diante dessa imemorial brancura do cemitério marinho , o mar a incendiar tudo , a luz subindo da linha do horizonte e eu aqui , o teu olhar pousado em mim , eu aqui , no limiar do poema ,
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