Tão inesperado como o que vi , foi o grito que não consegui suster . Lá dentro estava a cabeça ensanguentada de Fungi e tão desfigurada que nunca mais consegui lembrar-me do seu rosto intacto . Os traços dessa traição conservam-se visíveis ainda hoje : a imagem da minha irmã , que insiste em fitarme , só me aparece de cabeça cortada . E dos seus olhos semi-cerrados escorrem lágrimas de sangue . Os meus fantasmas pertencem ao alvorecer dos tempos , mas é de noite que o seu espírito me acusa pelos erros do meu passado . Do lado de fora da minha cubata , o meu povo dança , salta , grita , faz caretas aos espíritos das aves e dos animais , tentando afugentá-los numa vibrante refrega em minha honra . Homens e mulheres que se mortificam e rebolam na areia vermelha do largo , ao mesmo tempo que se lamentam em altos brados : “ Que vai ser de nós sem Ginga ?” As labaredas das fogueiras estão altas , ainda assim não me iluminam , porque o meu mundo deixou de ser terrestre e os gritos do meu povo vão ficando abafados e só ressoam de longe . Os meus fantasmas sobem carreiros e mais carreiros , uma rede de carreiros acima do alto capim e os seus pés espelham os meus percursos no meio de capim queimado , no meio do mato que sobe e desce por ravinas frescas ou por colinas pedregosas . Só os seus espectros podem perscrutar as encruzilhadas dos meus caminhos . Sou eu que me revejo a partir para todos esses percursos , seguindo