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sim, tu, e tu, e tu, e tu, e tu, baixavam a cabeça,
davam-me passagem. Os poucos que refilavam só
se atreviam a fazê-lo nas minhas costas, virava-me
logo e encarava-os, algum problema?, engoliam em
seco e calavam, nenhum problema. Muitos saíram
antes que eu tivesse tido tempo de chegar junto
deles. Os que tinham tralha, pegavam na tralha e
punham-se a andar. Os que nada mais tinham a não
ser o pouco que traziam vestido desapareciam
ainda mais depressa. Sobravam já menos de
metade quando fiquei frente a frente com um
homem que não desviava o olhar, és uma fraude,
acusou-me sem pestanejar, foi a Mónica que nos
deixou ficar aqui, só a Mónica pode pôr-nos na rua.
Logo os outros se apressaram a concordar, é isso, é
isso mesmo, uma algazarra. Uns que já estavam de
saída voltaram para trás. Não precisei levantar a
voz, o tom seco calou quase por completo a
barulheira, isto também é meu, usurpador de
merda. Ficou calado, mas não se desviou.
Contornei-o e segui para os outros, cambada de
usurpadores. Continuavam a sair, agora a ritmo
mais lento. O atrevimento do homem que não
desviava o olhar fez com que mais alguns me
enfrentassem. Apesar disso, no final podia contarse
os que sobravam, tão poucos que o espaço
parecia enorme, distinguia-se finalmente que isto
podia ser um café. Dispersos pela sala, os semabrigo
quase podiam ser confundidos com clientes
num dia de pouca freguesia. À espera de quê?, a
acústica do antigo teatrinho continua perfeita,
à espera de quê?, perguntei como se falasse para
mim, mas todos me ouviram. Perceberam que
insistia para que saíssem. Só cinco ou seis o
fizeram. O homem que não desviava o olhar
continuava aqui, ele e os outros que o imitaram.
Sorri-lhes, abri uma caixa que tinha trazido e
puderam ver que estava cheia de bolos. Agora o
que havia chegava para todos. Ofereci-lhos.
Enquanto se lambuzavam fui até à porta. Tinha a
expectativa de que um polícia estivesse a chegar.
Antes de vir para aqui, passei na esquadra, pedi
que enviassem um agente daí a meia hora, motivo?,
tinha informações de que estava a ser preparado
um assalto ao meu estabelecimento, torceram o
nariz, suspeitava mesmo que alguns dos meliantes
faziam parte de um dos bandos de miseráveis
envolvido na revolta que dizem que está a
acontecer a norte, ficaram mais interessados, abri a
carteira e pus uma nota em cima do balcão do
atendimento, prometeram imediatamente que um
agente estaria aqui daí a meia hora, no máximo. Os
sem-abrigo comiam os bolos com sofreguidão,
consultei o relógio, passavam três quartos de hora,
o agente devia estar a chegar. Estava mesmo.
Convidei-o a entrar. Bastou verem-no e quatro dos
sem-abrigo saíram. Estes homens foram
despedidos da fábrica de bolos, disse eu ao polícia
de maneira que todos me ouvissem, roubavam lá
bolos e agora é a mim que mos roubam, veja. Havia
migalhas e açúcar nas mãos e bocas de todos. Sete
deles saíram apressadamente.