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prima que ela não ajudasse. A incapacidade de a
Mónica recusar ajuda a quem quer que fosse, essa
ajuda não estar sequer limitada a um certo número
de pessoas, para além de determinar um roubo no
que lhes tinha sido dado, já que sendo o espaço
limitado, era cada vez menor a quantidade que
cabia a cada um, significava que os que aqui
estavam não tinham sido escolhidos, tinham sido
simplesmente aceites, tanto fazia que fossem
quem são ou outros quaisquer. Se a minha prima
não tinha escolhido ninguém em particular, então
também ninguém lhe devia nada. Todos davam
maior valor ao que lhes tinha sido dado, mas em
vez de agradecerem, reivindicavam, pediam que a
Mónica recusasse quem chegava. A partilha com
cada vez mais pessoas tinha feito com que primeiro
ficassem com menos do que queriam e depois com
menos do que necessitavam. É fácil partilhar o que
abunda, difícil é partilhar o que escasseia. Não
demorou muito até que os pedidos passassem a
exigências. Ao aceitarem o que a minha prima lhes
dera, tinham prescindido de procurar sítio melhor,
isto para já não falar do trabalho oferecido na
recuperação do espaço. As recriminações e
acusações sucederam-se, mas de nada serviram, a
Mónica não é capaz de dizer que não a quem
precisa de ajuda. Os que aqui estavam passaram a
encarar a compaixão que ela sentia pelos outros
como masoquismo e a generosidade como
exibicionismo. De benfeitora passou a hipócrita. A
todos a Mónica desculpava por saber que a aflição
de quem muito carece quase sempre impede o
decoro de pedir e a disponibilidade para partilhar.
Julgando ser pudor ou desajeitamento o que fazia
com que a minha prima não conseguisse dizer um
simples não, um dos que aqui estavam teve uma
ideia, a Mónica podia recusar os que chegavam não
em seu nome mas sim de um outro, um primo por
exemplo, inventando que era ele quem de facto
tinha o direito de mandar em tudo isto. A ideia
passou de boca em boca e todos a consideraram
genial. Só que a Mónica continuou a acolher quem
chegava com a mesma simpatia de sempre. Os que
já aqui estavam convenceram-se de que ela não
queria prestar-lhes atenção. Mas não foi isso que
aconteceu. A ideia tinha sido formulada e a Mónica
já não a podia esquecer, o que se conhece nunca
mais se desconhece. E então, quando o espaço se
tornou mínimo para tanta gente, quando os que
aqui estavam tomaram conta de tudo e depois se
barricaram e depois começaram as lutas entre os de
dentro e os de fora, entre os de dentro e os de
dentro, quando o barulho se tornou tanto que era
difícil até pensar, então a Mónica estava sempre a
lembrar-se, e se houvesse um outro?, e se houvesse
um primo?
Não havia primo nenhum, ninguém que pudesse
apresentar-se como tal, nem sequer a imagem de
uma pessoa severa que fosse suficientemente
querida pela Mónica para que ela pudesse invocá-la