Fluir nº 5 - junho 2020 - | Page 67

inalados pelas narículas de Nadab e Abiú, chegaram-lhes aos pulmões. Pela corrente sanguínea seguiu, além de oxigénio e demais componentes gasosos da atmosfera, também uma toxina, que se incrustou nos canais iónicos do receptor do ácido gama-aminobutírico, inibindo a acção deste neurotransmissor no adequado fluxo de cloro nos respectivos sistemas nervosos. Nadab e Abiú entraram em convulsões, foram acometidos de tonturas e fortes náuseas, vomitaram, encurvando-se por força de dores abdominais. Dever-se-ia ter seguido, entre outros sintomas, também um aumento da temperatura corporal, acidose metabólica, sudorese, inchaço no cérebro, distúrbios de coagulação sanguínea, rabdomiólise e insuficiência renal, culminando em insuficiência respiratória ou fibrilhação ventricular. Pelo menos, é essa a sintomatologia da intoxicação por cicuta, planta da família das apiáceas, prima do gálbano, mas de inflorescências albas em vez de amarelas. Abiú e Nadab não chegaram, porém, à derradeira fase. Entre seus estertores, entornaram as brasas dos turíbulos sobre as vestes sacerdotais. E em vez de envenenados, morreram queimados. Nota: A punição de Nadab e Abiú está referida no capítulo 20 do Livro de Levítico. O castigo deveu-se à oferenda a Deus de um fogo profano no altar dos perfumes. No capítulo 30 do Livro do Êxodo surgem os pormenores do altar dos perfumes, do castigo em caso de incumprimento das normas, e as características e ingredientes do óleo e perfume de unção. 67