conheci – o sportinguista fervoroso que a si mesmo
se alcunhou de “Alvalade”.
A todos eles devo o regresso à alegria. Creio que
era Montaigne quem dizia não ser capaz de fazer o
que quer que fosse sem alegria. Sei-o bem, hoje:
sem alegria, até levantar-me da cama, pela manhã,
seria um suplício, como chegou a sê-lo. O trabalho
está aí, para demonstrá-lo: cinco livros nos últimos
cinco anos, um sexto a sair (este a meias com a
Catarina), contos em todo o tipo de publicações,
centenas de crónicas com diferentes géneros de
periodicidade, uma peça de teatro, um filme
(ambos a meias com a Catarina também).
Falo dos números, da quantidade, porque tudo o
mais é com o leitor, não comigo. A mim, interessame
sobretudo esta constatação: nunca trabalhei
tanto como hoje. Quanto ao resto, já se sabe, não
há sucesso: apenas graus de fracasso. Mas até por
isso continuamos a investir contra o vento. Porque
não saberíamos viver de outra maneira – em busca
da possibilidade do Bem.
Disso falam os dois volumes deste A Vida no
Campo, espero. Da possibilidade do Bem. Da
redescoberta da alegria, embora também da
saudade dos que estão agora distantes, na cidade
ainda amada. De quanto custa um quilo de arroz e
do que os pobres continuam a precisar de fazer
para assegurá-lo. Dos nomes desses pobres. Dos
nomes das árvores que lhes sobreviverão. E de
como tudo isso me permitiu voltar a fazer planos,
hoje e – estou agora convicto – até o último dia da
minha vida.
Quem não acredite em segundas oportunidades,
pois aí tem. Talvez de mais nada fale este diário,
afinal: de uma segunda oportunidade.
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