gigantescas ondas de homéricas tempestades, de
náufragos seminus em ilhas tropicais. E que
saudades tenho do herói que nos dias de
adolescência prometia a mim mesmo ser. Já se vê,
que sou um caso óbvio de incumprimento.
F5. O que o levou a tornar-se editor? Trace-nos em
algumas palavras a aventura que terá sido a
génese da Guerra e Paz.
Aprendi a fazer livros com João Bénard da Costa, na
Cinemateca. Quando deixei a SIC, num acordo que
os deuses inspiraram a Francisco Pinto Balsemão,
decidi que já tinha uma linda idade para fazer da
minha tão proveitosa vida o que bem entendesse.
Juntei um mais um e deu dois, eu e a Guerra e Paz.
Cá estamos. Foi vaidade, presunção e muita
amizade. Os meus primeiros sócios foram os meus
amigos de infância.
F6. Há um romance (O Franco-atirador Paciente, de
Arturo Pérez-Reverte) em que o autor o
transforma numa personagem.
Como se sente ao ver-se representado nas páginas
de um livro? Essa personagem revela alguma coisa
do homem Manuel Fonseca e da sua circunstância,
ou é uma mentira? E se alguém se propusesse
passar a obra para cinema, aceitaria fazer o papel?
Eu mesmo, Manuel, o que muito me honraria por
não conhecer Arturo, nem ele me conhecer a mim,
o que suporia uma maravilhosa intriga, na qual
Trump e Putin teriam de estar certamente
envolvidos? Seja como for, eu, como actor, só
entrarei num filme realizado pela vossa
colaboradora Joana Pontes, a única a quem
confiaria o supino talento dramatúrgico que ainda
ninguém descobriu em mim.
F7. O que tem a Guerra e Paz na manga?
Gostava de anunciar um romance de António Lobo
Antunes, mas a editora dele era capaz de levar a
mal. Anuncio a Fotobiografia de Jorge de Sena. E,
muitíssimo a sério, anuncio um livro político e
filosófico essencial: vou publicar um livro de um
sinólogo, Porquê a Europa, Reflexões de um
Sinólogo, que tem tudo que ver com o mundo em
que um vírus nos fez entrar: se o mundo que aí vem
vai ser liderado pela China, o que é
verdadeiramente a China? Que violência intestina
é a sua, que feridas e guerras arrasta do passado? É
um livro a que fiquei preso como a uma
inescapável tragédia ficaria também.
Quem é esse editor de que Arturo Pérez- Reverte
fala? “O” editor, em sentido abstracto?
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