razão prática pura, propõe-nos um mundo, afinal,
menos humano, de homens imunes aos
sentimentos, aos medos, às necessidades.
O editorial que vêm lendo, e não tem de ser
tomado como uma apologia da mentira, mas um
reconhecimento, quando muito, de situações
possíveis em que, mais do que um mal menor, ela
seja o instrumento de algum bem, abre o pano para
o tema deste número da Fluir. A mentira,
precisamente.
para todos, deverá assumir-se como o testemunho
de que, haja o que houver, em tempos alegres, ou,
digamos assim, em tempos de cólera, as pessoas
continuarão amando, e sofrendo, trabalhando e
preocupando-se; e os artistas continuarão criando.
Parece-me bem: numa edição sobre a mentira,
apraz-me concluir com esta irrefutável verdade.
O número 5 traz-vos, como os anteriores, um grupo
magnífico de autores. Alice Brito, Bruno Leal,
Catarina Vasconcelos, A. M. Pires Cabral, Jerónimo
Pizarro, Joana Bértholo, João de Melo, Joel Neto,
José Dias de Sousa, Luís Mário Lopes, Manuel S.
Fonseca (o editor de Guerra e Paz, que
entrevistámos), Maria Filomena Molder, Pedro
Almeida Vieira, Tiago Martins.
Sob a capa da autoria de José da Fonseca, que está,
mesmo para mim neste momento em que escrevo,
ainda no segredo dos deuses, e sob o trabalho dos
braços múltiplos da nossa Deusa Kali, Ana Cristina
Marques, dedicada a sublimar a qualidade estética,
gráfica e tecnológica da revista, ei-la por fim à luz
do dia.
Aparecendo na sequência de dias duros de
quarentena, ecoando essa experiência
inteiramente nova para nós, tremenda e incerta
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