Fluir nº 5 - junho 2020 - | Page 5

razão prática pura, propõe-nos um mundo, afinal, menos humano, de homens imunes aos sentimentos, aos medos, às necessidades. O editorial que vêm lendo, e não tem de ser tomado como uma apologia da mentira, mas um reconhecimento, quando muito, de situações possíveis em que, mais do que um mal menor, ela seja o instrumento de algum bem, abre o pano para o tema deste número da Fluir. A mentira, precisamente. para todos, deverá assumir-se como o testemunho de que, haja o que houver, em tempos alegres, ou, digamos assim, em tempos de cólera, as pessoas continuarão amando, e sofrendo, trabalhando e preocupando-se; e os artistas continuarão criando. Parece-me bem: numa edição sobre a mentira, apraz-me concluir com esta irrefutável verdade. O número 5 traz-vos, como os anteriores, um grupo magnífico de autores. Alice Brito, Bruno Leal, Catarina Vasconcelos, A. M. Pires Cabral, Jerónimo Pizarro, Joana Bértholo, João de Melo, Joel Neto, José Dias de Sousa, Luís Mário Lopes, Manuel S. Fonseca (o editor de Guerra e Paz, que entrevistámos), Maria Filomena Molder, Pedro Almeida Vieira, Tiago Martins. Sob a capa da autoria de José da Fonseca, que está, mesmo para mim neste momento em que escrevo, ainda no segredo dos deuses, e sob o trabalho dos braços múltiplos da nossa Deusa Kali, Ana Cristina Marques, dedicada a sublimar a qualidade estética, gráfica e tecnológica da revista, ei-la por fim à luz do dia. Aparecendo na sequência de dias duros de quarentena, ecoando essa experiência inteiramente nova para nós, tremenda e incerta 5