Fluir nº 5 - junho 2020 - | Page 39

O macaco, que agora era um gigante, riu-se, contrafeito; mas não infeliz, era o que faltava. Não quis aborrecer o galho e inventou uma desculpa. Tinha por ele uma estima sincera, e sempre que o trepara era apenas para lhe dar a breve alegria de ter alguma utilidade, independentemente do seu tamanho. - Tu és muito grande para mim. Mereces mais do que eu, que sou um macaco pequenino. viver assim o dobro do tempo num tempo só. (não continua, e não é verdade nem mentira que a história acabe aqui). O galho alto não se achava burro, mas tinha a vaga impressão de que o macaco pequenino falava mais línguas do que ele; mesmo que só chiasse, que é o que os macacos fazem quando não estão calados. Ele, galho grande, tal como os outros galhos mais pequeninos, não fazia mais do que gemer, e só o faziam com a ajuda do vento. - Que disparate, replicou o galho. O macaco adormercera entretanto no outro galho, e por isso não ouviu a desculpa do galho grande. Não, não adormecera nada, fingia um sono solto no qual nenhum sonho fosse um ai, nem um ui nem outro qualquer som de lamentação. E decidiu ali, contra a sua vontade, que havia de dar uma lição ao galho que o expulsara. Mas o galho ouvia os pensamentos do macaco, e já estava preparado para lhe dar uma resposta quando ele acabasse a sesta. Sim, era o meio da tarde, hora boa para fazer de um dia dois dias, e 39