não creio nisto. Caeiro devia estar certo e ter
razão, ainda nos pontos em que a não
tivesse.
De resto, esta conversa teve um grande
resultado. Foi nella que o Antonio Mora
bebeu a inspiração para um dos capitulos
mais assombrosos dos seus Prolegomenos –
o capitulo sobre a idéa de Realidade. Em
todo o decurso da conversa, foi o Antonio
Mora o unico que não disse nada. Limitou-se
a ouvir com os olhos parados para dentro as
idéas que se tinham estado a dizer. As idéas
do meu mestre Caeiro, expostas nesta
conversa com o atabalhoamento intellectual
do instincto, e, portanto de um modo
forçosamente impreciso e contradictorio,
foram convertidas, nos Prolegomenos, num
systema coherente e logico.
Não pretendo diminuir o valor
realissimo de Antonio Mora. Mas, assim como
a base de todo o seu systema philosophico
nasceu, segundo elle mesmo o diz com
orgulho abstracto, da simples phrase de
Caeiro, “A Natureza é partes sem um todo”,
assim uma parte d'esse systema – o
maravilhoso conceito da Realidade como
“dimensão”, e o conceito derivado de “graus
de realidade” – nasceu precisamente d'esta
conversa. O seu a seu dono, e tudo ao meu
mestre Caeiro.
25/2/1931.
(BNP/E3, 71A-41 a 45)
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