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mais pedreidade que aquella?”
“Sim, senhor” respondeu logo o meu mestre.
“Eu estou pronto a dizer, “esta pedra é mais pedra
que aquella”. E estou prompto a dizer isto se ella
fôr maior que a outra, ou tiver mais peso, porque o
tamanho e o peso são necessarios a uma pedra para
ella ser pedra... ou, principalmente, se ella tiver
mais completamente que outra todos os attributos,
como v. lhes chama, que uma pedra tem que ter
para ser pedra.”
“E o que chama v. a uma pedra que v. vê em
sonho?” e o F. sorriu.
“Chamo-lhe um sonho”, disse o meu mestre
Caeiro. “Chamo-lhe um sonho de uma pedra”.
“Comprehendo” e o F[ernando] acenou. “V. – como
se diria philosophicamente – não distingue a
substancia dos attributos. Uma pedra é uma coisa
composta de um certo numero de attributos – os
necessarios para compôr aquillo a que se chama
uma pedra – e de uma certa quantidade de cada
attributo, que é o que dá a pedra determinado
tamanho, determinada dureza, determinado peso,
determinada côr, que a distinguem de outra pedra,
sendo comtudo ambas ellas pedras porque teem os
mesmos attributos, embora em quantidade
differente. Ora isto equivale a negar a existencia
real da pedra: a pedra passa a ser simplesmente
uma somma de coisas reaes...”
“Mas uma somma real! É a soma de um peso
real e de um tamanho real e de uma côr real e assim
por deante. E porisso é que a pedra, além do
tamanho, do peso, etc., tem realidade tambem... Não
tem realidade como pedra: tem realidade porque é
uma somma de attributos, como v. lhes chama,
todos reaes. Como cada attributo tem realidade, a
pedra tem-a tambem.”
“Voltemos ao sonho”, disse o F[ernando]. “V. a
uma pedra que vê em sonho chama um sonho, ou,
quando muito, um sonho de uma pedra. Porque diz
v. “de uma pedra”? Porque emprega a palavra
“pedra”?”
“Pela mesma razão que v., quando vê o meu
retrato, diz 'isto é o Caeiro' e não quer dizer que seja
eu em carne e osso”.
Desatámos todos a rir. “Comprehendo e
desisto”, disse o Fernando a rir comnosco. Les dieux
sont ceux qui ne doutent jamais. Nunca
comprehendi tão bem a phrase de Villiers de l'Isle
Adam.
Esta conversa ficou-me gravada na alma; creio
que a reproduzi com uma nitidez que não está longe
de tachygraphica, salvo a tachygraphia. Tenho a
memoria intensa e clara que é um dos
characteristicos de certos typos de loucura. E esta
conversa teve um grande resultado. Está claro que
foi inconsequente como todas as conversas, e que
seria facil provar que, perante uma logica rigorosa,
só quem não fallou se não contradisse. Nas
affirmações e respostas, interessantes como
sempre, do meu mestre Caeiro pode um espirito
philosophico encontrar reflexos do que na verdade
seriam systemas differentes. Mas, ao conceder isto,