O Friedrich? Por que não o Mil-folhas? Ou o
Canivetes, ou…
De pé, sobre o muro da ponte, entre uma margem e
outra do rio… Às vezes o que é belo não é bom. Mas
tem cara, tem corpo. E mete as pernas dele entre as
minhas. Talvez o Friedrich…
Não vás por aí. Por que não o Mil-folhas, por que
não o Canivetes, a senhoria, os sem-abrigo, por que
não os três deuses?...
Os três deuses?
Os três deuses, sim, os três apertados na cama,
abraçados uns aos outros. Humm…
Não, não, não, não, não. Chega.
Um homem vivia na floresta, nunca tinha visto
outros homens. Criado por ratazanas, julgava que
também era uma. Andava com mãos e pés no chão
como elas fazem, como elas lhe tinham ensinado. O
corpo maior e menos peludo, a falta da cauda, a
menor agilidade, nada o impedia de ser como elas.
Quando fechava os olhos, a imagem que tinha de si
era a de uma ratazana igualzinha às outras. Não
havia espelhos, mas quando chovia as poças que se
formavam no chão duplicavam tudo o que o
rodeava. Só que ao debruçar-se sobre a água, o
homem não identificava a figura que surgia no
centro de tudo como sendo ele. As ratazanas, a
toda a volta da poça, criavam ao beberem figuras
parecidas com elas, mas ele não. Quando, entre
elas, se debruçava para beber, no lugar dele
aparecia uma figura que só conhecia dali. Nas
primeiras vezes ficou assustado, depois habituouse.
Não sabia de onde vinha aquilo, mas era assim
que as coisas funcionavam. Com certeza, quando as
outras ratazanas se debruçavam sobre a água
também viam no lugar delas uma figura como
aquela. Na natureza e na vida há muitas coisas que
não sabemos explicar e com que acabamos por
conviver. Coisas misteriosas como o arco-íris no
céu, que às vezes também aparecia depois de
chover, ou como a figura que surgia no centro do
reflexo de todas as coisas que o rodeavam. Uma
figura que não tinha nada a ver com ele, ele era
uma ratazana, como as outras. A tal figura já não o
assustava, mas incomodava-o. Por isso quando
chovia não se demorava muito a beber a água das
poças, preferia olhar o céu, o arco-íris era muito
mais belo do que a figura feia que surgia a meio do
duplicado de tudo o que o rodeava.
O homem era menos ágil do que as ratazanas, mas
tinha mais força do que elas, faziam uma boa
equipa. Quando era preciso atacar um animal, as
ratazanas cercavam-no rapidamente, o homem
demorava sempre mais tempo a chegar mas
conseguia amarrar a presa com raízes compridas
das árvores, coisa que as outras ratazanas não eram
capazes de fazer. Quando o animal estava
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