virão à cena o segundo e o terceiro actores�. Aqui,
Apolo, o deus que gera a criatividade onírica (fonte
do oráculo e da sua decifração ) toma a dianteira.
Em rigor, tanto as máscaras que ocultam o rosto do
actor como a invenção poética são fruto do
princípio apolíneo, já a profundidade da dor que
trespassa o viver humano e o faz entrar em êxtase,
procede da embriaguez dionisíaca. Mas essa
profundidade só se pode dar a conhecer pela
aparência do sonho.
Por outro lado, a máscara é um acto terapêutico,
para providenciar àquele que a põe furtar-se ao
reconhecimento de qualquer outro, como
precaução e defesa. No caso de Nietzsche, a
máscara é usada assim, fundindo-se com o acto
estilístico, o acto de escrita, não só para pôr à prova
os bons leitores, como para afastar os maus
leitores, aqueles que querem ser enganados. Que
Zaratustra seja “um livro para todos e para
ninguém” é a melhor pedra-de-toque para o
alcance da máscara.
a pior espécie de traidores, aqueles que matam os
seus próprios convidados. Estes anfitriões
perversos põem em causa, de maneira irreversível
– mais do que outra espécie de traidoresassassinos
e mais do que os ladrões –, o
sustentáculo de qualquer vida humana: a
confiança. Dar morte a um convidado através da
refeição oferecida é o caso mais grave de atropelo
das nossas expectativas vitais.
Se o primeiro princípio da vida humana é para
Dante a liberdade (de tal modo que colocou à
entrada do Purgatório um suicida, Catão, pela razão
decisiva de ele se ter dado morte por lealdade para
com os seus ideais de uma vida livre), já a
confiança é o lastro sem o qual aquele princípio
não pode actualizar-se. Trair é um caso-limite da
dissimulação, trair os seus convidados
envenenando-os é o caso-limite de dissolução da
confiança, condição sentimental de qualquer
comunidade humana.
Coda sobre a confiança
Dante colocou no último círculo do Inferno da
Comédia�, nas profundezas do seu cone invertido,
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� Sabe-se que as tragédias primitivas começaram por ter apenas um
actor em cena, embora só tenhamos documentos literários de peças
com dois e três actores. Foi Sófocles a introduzir o terceiro actor. Em
Ésquilo vemos sempre apenas dois em cena.
6. Assim chamou Dante ao seu poema. A determinação “Divina” foi
acrescentada por um editor veneziano no século XVI.