deixava apanhar.
Por que haveria de ser tão impossível, e
aparentemente tão desprezível, ser um pouco
feliz? Por que razão o eros se cobria de luto, em
lugar de cantar?
Como antídoto líamos Boris Vian e troçávamos com
ele de Jean-Sol Partre. Que, feitas as contas, nem
era assim tão original. Não estava já tudo o que
interessava em Kierkegaard?
Com a pressa despedíamos também Simone, que
achávamos destituída de poesia e de humor, e nos
lembrava as professoras azedas do liceu, sempre
ávidas do poder de mandar em nós.
Tantos anos depois, verifiquei, eu continuava a
rejeitar o eros fúnebre, Deus não me preocupava
nem um pouco e a angústia existencial de Vergílio
enervava-me. Era sem dúvida um grande escritor e
um enorme romancista, mas era melhor eu não
fazer aquela visita, que cada vez mais me parecia
inadequada.
Entretanto o elevador chegava ao 6º andar. Regina
já tinha aberto a porta e entrei. Por delicadeza.
Foi assim que conheci o homem que estava por
detrás de Aparição. E que, contra tudo o que eu
julgava plausível e apesar de todas as nossas
divergências, se tornou um amigo ímpar e fraterno,
que ficaria na minha vida. Para sempre.
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