Fluir nº 4 - fevereiro 2020 | Page 37

rainha, senhora que tem passado muito. No Panamá, na praia La Miel, o barman: - La princesa Diana de Gales murió esta noche. - Como é que a Diana pode morrer? Para que saibas, nasci no Alentejo, terra de suicídios, só colegas de turma foram dois ou três, é assunto sociológico e literário, acho eu. - Não gosto de pessoas que se matam. Acho uma falta de educação. Nunca erraste a frase. Se isto fosse fácil, era para os outros (lema teu dos marines). No casamento, em Portalegre, o Hermínio Monteiro ofereceu-nos um quadro de Juan Muñoz, foram-se embora disto quase ao mesmo tempo. O Al Berto dera, por antecipação, duas úteis pegas de cozinha, em crochet, e também se foi. Num livro com capa do Nozolino, ele pediu-me que cuidasse de ti, mas era um poeta. A Mena levou um bonito corta- papéis, o Croft mandou entregar uma caixa enorme, o Pinharanda quotizou o “Público” inteiro para a urgência da arte em casa, o Luís Pedro esteve muito falador. O Alexandre Melo contou às mesas que esteve quase a bater-me na festa em que nos conhecemos, pensou que um palerma te estava a importunar. O Tininho, o Pereirinha, o Zeca, o Eustáquio, as minhas irmãs, os primos, etc., cantaram blues alentejanos com o Coro das Gazelas Vadias. Um grupo contratado de mariachis de Badajoz soprou as trombetas até de manhã, mas saíram esgotados pelos nossos eclécticos amigos e,pouco depois, reformaram-se. Não tentaram o regresso aos palcos, em dez anos. O Alexandre tem um truque: os amigos não morrem, hoje é que não podem vir. A última: - Se eu morrer, tratas dos nossos filhos? - Não vais morrer. Mas é claro. Só me enganei numa coisa. O que ficou dum coração: passaram por aqui os hunos. A Miss Sud-America faleceu esta semana com a mesma bactéria. Tu eras mais bonita. Desculpa as palavras espavoridas, fogem dos arbustos para o céu, mas não tenho a tua pontaria a caçar chavões. Não sou Bill Goianes, bandoleiro do Recife. Tantas viagens paradas no mundo redondo. Já muitos o fizeram, deixa-me só dizer-te, Tereza Coelho, amor, obrigado e até à vista. 37