(Shopenhauer, in Süssekind, 2009, p. 20)
Sophia poderia subscrever este manifesto. O que
me leva a outro ingrediente importante de uma
biografia: as contradições. Não as forçadas, e
menos ainda as forjadas, mas as que sempre vão
com o humano.
Se a palavra biografia vem do grego bios/vida +
grafia/escrita, seria um erro esquecer que, antes de
mais, estamos a contar uma vida.
E qual é a vida que não se faz de contradições?
Sophia criticou a política, mas esteve
profundamente empenhada politicamente. No
discurso que prepara para o primeiro congresso do
Partido Socialista, diz:
«Não queremos a violência, não queremos que
a liberdade seja sofismada. Não queremos
nem inquisições nem perseguições. Não
queremos política da terra queimada. Não
queremos política imposta.» (Nery, 2019, p.
211)
Sophia não se identificava com feminismos, mas
esteve na vanguarda. Dos 250 deputados da
Assembleia Constituinte, apenas 27 eram mulheres
e apenas uma - precisamente Sophia - presidiu a
uma comissão parlamentar, a que estava
responsável pela redação do preâmbulo da
34 Constituição.
Sophia era poeta, mas escrevia sobre a realidade,
como relata de forma inequívoca nas suas «Artes
Poéticas»:
«A poesia é a minha explicação com o universo
(...) Por isso o poema não fala de uma vida ideal
mas sim de uma vida concreta: ângulo da
janela, ressonância das ruas, das cidades e dos
quartos, sombra dos muros (...),perfume da tília
e do orégão.» (Andresen, 2015, p. 891)
Depois do lançamento, em maio de 2019, uma das
perguntas que ouvi mais vezes foi: Porque escreveu
este livro?
Eu dava todas as explicações que me foram fazendo
sentido ao longo do processo de pesquisa e de
escrita. Escrevi-o porque fazia falta; porque Sophia
teve um lugar na História e não apenas um lugar na
Literatura; porque uma biografia contribui para dar
aos leitores a consciência desse lugar na História
que a poeta ocupa; porque ler biografias também é
uma forma de ver melhor um autor e o que deixou
escrito; porque sou jornalista e um jornalista é um
entregador de histórias; porque as histórias nos
aproximam uns dos outros.
Nem sei se precisaríamos de tantos porquês para
biografar uma das poetas mais amadas pelos
portugueses, a única mulher escritora com honras
de Panteão Nacional.
Talvez nos bastassem as palavras de Susan Sonntag
quando nos diz que se não se falasse ou não se