Fluir nº 4 - fevereiro 2020 | Page 25

Da importância de ter nascido em mil novecentos e sessenta e dois, lá, nessa terra dos turras e da humidade-oitenta-e-tal-por-cento e ter um pai que cagava a recitar poemas do zé gomes ferreira, e eu Uma terra onde todos os dias ao morreres, vivias, sob as mãos dessa mulher: Quieta, muito quieta, - Sim? Viver Sempre Também Cansa, ó Pai, não dissemos nada e agora - … É tarde, tão tarde, tu estás para aí, quieto, com todos os gritos que já não dizes, com todos os silêncios que já não falam de nada A estranheza maior agora, agora mesmo, que as mãos que procuras as tenha engolido essa bruma, esse lugar tão absolutamente distante que habitas, agora, agora mesmo. - Mariazinha? De nada. Quando eu era pequena, o meu pai, chamava-me fanerogâmica. Dez para onze anos e sou uma melancia verde por fora vermelha por dentro criança-mulher-jovem- velha também eu O abracadabra de uma só palavra Bonita Também eu. Os gritos não se dizem. Eu digo, eu digo. O pai-jovem-vinte-e-seis-anos e a matar gente, a ver morrer gente, lá nessa humidade-oitenta-e-tal- por-cento, e o amor, Abriu-me por dentro a porta para as palavras. Essas que me gritam. E as outras. Eu tenho oito para nove anos e sou uma fanerogâmica de olhos aguados, mas só por dentro, só por dentro, e venho a correr de nariz empertigado e tropeço na minha guerra 25