Da importância de ter nascido em mil novecentos e
sessenta e dois, lá, nessa terra dos turras e da
humidade-oitenta-e-tal-por-cento e ter um pai que
cagava a recitar poemas do zé gomes ferreira, e eu Uma terra onde todos os dias ao morreres, vivias,
sob as mãos dessa mulher:
Quieta, muito quieta, - Sim?
Viver Sempre Também Cansa, ó Pai, não dissemos
nada e agora - …
É tarde, tão tarde, tu estás para aí, quieto, com
todos os gritos que já não dizes, com todos os
silêncios que já não falam de nada A estranheza maior agora, agora mesmo, que as
mãos que procuras as tenha engolido essa bruma,
esse lugar tão absolutamente distante que habitas,
agora, agora mesmo.
- Mariazinha?
De nada.
Quando eu era pequena, o meu pai, chamava-me
fanerogâmica.
Dez para onze anos e sou uma melancia verde por
fora vermelha por dentro criança-mulher-jovem-
velha também eu
O abracadabra de uma só palavra
Bonita
Também eu.
Os gritos não se dizem. Eu digo, eu digo.
O pai-jovem-vinte-e-seis-anos e a matar gente, a
ver morrer gente, lá nessa humidade-oitenta-e-tal-
por-cento, e o amor,
Abriu-me por dentro a porta para as palavras. Essas
que me gritam.
E as outras.
Eu tenho oito para nove anos e sou uma
fanerogâmica de olhos aguados, mas só por dentro,
só por dentro, e venho a correr de nariz
empertigado e tropeço na minha guerra
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