Fluir nº 4 - fevereiro 2020 | Page 22

O coração bate mais devagar. Já não há lágrimas. Respiro fundo. Agora estou aqui presente, atalhando qualquer desvio, aqui e agora. O concerto termina, levantamo-nos e aplaudimos de pé, há uma unanimidade feliz na sala cheia. Volto para casa. Espera-me a vida normal, tenho uns amigos para o jantar. Vou pela marginal, devagar, acompanhando o rio em direcção à foz, a luz a cair, como dizemos nos filmes, o alaranjado do por do sol de um dia que foi claro dando lugar a um azul cada vez mais profundo e escuro. Em breve será noite. E ocorrem-me as palavras sábias do poeta Manuel António Pina: Memória é tudo o que temos, palavra é tudo o que temos. 22