Fluir nº 2 - fevereiro 2019 | Page 26

de pré-agressão.

Os Zorgrup estão em fase proselitista e entraram agora na zona de influência deste aglomerado estelar. Não podes ver o Enxame, mas este encontra-se neste momento a dez minutos-luz deste nosso mundo. Estão preparados para assimilar todos os crentes numa mónada gestáltica. Crentes como nós, os alegados Lobos. E, como são uma espécie alegadamente cordata, pactuaram connosco, não com as irremediáveis heresias do agnosticismo radical típicas dos humanos. Por isso mesmo, toda e qualquer Companhia de Exploração Terra-Sol tem pouco mais de 24h para fazer as malas. Entendido?

As palavras soam na cabeça da Mafalda mas esta, claro, nada compreende. É um cão, um simples cão amplificado. Especialista no controlo de rebanhos renitentes. Em agradar ao dono. Em apanhar bolas evasivas. Não passa de um ninho de afectos, nada mais do que isso.

— Mau, — insiste ela, — monstro...monstro...

E ela a dar-lhe, replica o Lobo com as maxilas a castanholar.

Olha minha querida, ainda não percebeste que o monstro és tu? Pois bem, a proposta é esta, vai ter com o teu dono, rasga-lhe a garganta, desliga o Domo, bloqueia os lasers de combate, apaga o pseudo-sol. Clique, clique, clique, sem mais demoras. Penso que tens acesso aos códigos.

Eu sabia... eu sabia... como é possível uma espécie de capacidades cognitivas limitadas possa emitir comentários xenofóbicos? Olha, minha querida, esta terra sempre foi nossa antes de ser tua, entendido? A ocupante invasora és tu, tu e os rebanhos de proteína, tu e esse bípede que está a pedir um justo castigo. Só estou aqui para te avisar que a tolerância tem limites. Que a hora da retaliação chegou. Que o extremo prejuízo vai iniciar-se em breve.

— Eu mordo-te todo, bicho mau! — ladra Mafalda, sabendo-se protegida pela Barreira, num súbito acesso de valentia. — Ai, quando eu contar ao meu dono...

E eu ralado... murmura a voz do Lobo, como se tivesse acesso directo aos implantes linguísticos do canídeo. Mafalda foi infectada por um meme linguístico e nem sequer se deu conta disso. Adiante que se faz tarde. Só estou aqui para te avisar que a paciência tem limites, que temos intenções de devastar a proteína tóxica a que vocês chamam comida, voltar a ocupar todo este espaço que nos tiraram, fazer em farripas a criatura a quem chamas dono, e... bom, já que te pareces connosco, já que pertences a uma espécie escravizada, temos a propor-te uma solução intermediária, que tal?

Mafalda não quer saber de propostas. Recua, meio agachada, enquanto o Lobo sorri, naquele tipo de esgares que o canídeos consideram ser uma forma

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