Explora Web Magazine Ano II Volume VI | Page 3

Editorial M eu primeiro contato com a ciência, assim como muitos da minha geração, veio com programas de TV como X-Tudo e O Professor, ambos da TV Cultura. Antes da internet era a televisão que tentava popularizar a ciência. Infelizmente a televisão não tentava muito (e não tenta até hoje). Felizmente para mim, tinha acesso à biblioteca de mamãe, onde descobri a ficção científica e o fascínio que aquelas fantásticas aventuras traziam para um jovem projeto de gente. Em meio à ficção, descobri livros de divulgação e com eles os prazeres da não ficção científica. Passava horas desvendando os mistérios do corpo humano e do sistema solar, tentando descobrir como funcionava o universo. Cresci e continuo tentando descobrir como funciona o universo. Como Biólogo estudo parte dele, como pessoa me delicio com o todo. Consumo divulgação científica em diversas formas, mas o grosso é disponibilizado pela internet. Existe muita coisa boa por aí, mas existe também muita coisa ruim. A beleza da internet é a liberdade que temos de disponibilizarmos o que quisermos pro mundo todo, o ruim é que o filtro de qualidade somos nós mesmos. Como diferenciar um conteúdo baseados em fatos concretos, de mera especulação desinformada? Desinformação é tática de guerra e a capacidade de separar informação de desinformação é essencial para qualquer órgão de inteligência. Porque seria diferente pra gente? A Mídia está em guerra pela nossa atenção. Tempo é dinheiro, e tempo gasto consumindo conteúdo é dinheiro pra quem o produziu. Se eu prefiro consumir o sensacionalismo e a desinformação, contribuo pra que isso se perpetue. Se eu prefiro consumir a informação baseada em fatos, contribuo pra que isso se perpetue. É a lógica econômica colocada em prática. Se a divulgação cientifica é um pequeno nicho de mercado, cabe a nós consumidores consumi-la. Se a divulgação cientifica não é atraente para o consumidor, cabe a nós produtores de conteúdo torna-la atraente. Não muito tempo atrás videogames eram um pequeno nicho de mercado, hoje é uma das maiores indústrias do entretenimento. Por quê? Por que os jogos estão cada vez mais atraentes para o consumidor. A ciência vende. Ou melhor, o discurso científico vende (ou você acha que propagandas de pasta de dente sempre tem alguém de jaleco branco porque é bonito?). Mas então, por que a divulgação científica não vende? Ora, falta conteúdo no discurso científico, e discurso no conteúdo científico. Se por um lado o cientista não se preocupa com seu discurso (só quem lê artigos científicos sabe o esforço que é ler alguns por aí), o sensacionalista não se preocupa com seu conteúdo. Não é a toa que o maior ícone da divulgação científica, Carl Sagan, aliava o dom do discurso com o conteúdo científico. A receita de sucesso da divulgação científica. Eu não tenho pretensões de me comparar a Carl Sagan, nem de definir o que é o discurso ou o conteúdo ideal pra divulgação científica. Meu papel aqui é o de instigador, o de fazer você questionar o que consome e o como você consome. Eu tento passar o que aprendi desde criança, que é legal e divertido questionar-se sobre o mundo, que é legal e divertido aprender sobre o mundo. Por isso colaboro com a Explora. Por isso resolvi estudar e trabalhar com biologia. Por isso o meu filtro sempre começa com uma simples pergunta: Será? João Doria Revisor Explora Web Magazine 3