Editorial
M
eu primeiro contato com a ciência,
assim como muitos da minha
geração, veio com programas de
TV como X-Tudo e O Professor, ambos da TV
Cultura. Antes da internet era a televisão que
tentava popularizar a ciência. Infelizmente a
televisão não tentava muito (e não tenta até
hoje).
Felizmente para mim, tinha acesso à
biblioteca de mamãe, onde descobri a ficção
científica e o fascínio que aquelas fantásticas
aventuras traziam para um jovem projeto de
gente. Em meio à ficção, descobri livros de
divulgação e com eles os prazeres da não
ficção científica. Passava horas desvendando
os mistérios do corpo humano e do sistema
solar, tentando descobrir como funcionava o
universo.
Cresci e continuo tentando descobrir
como funciona o universo. Como Biólogo
estudo parte dele, como pessoa me delicio
com o todo. Consumo divulgação científica
em diversas formas, mas o grosso é
disponibilizado pela internet. Existe muita
coisa boa por aí, mas existe também muita
coisa ruim. A beleza da internet é a liberdade
que temos de disponibilizarmos o que
quisermos pro mundo todo, o ruim é que o
filtro de qualidade somos nós mesmos. Como
diferenciar um conteúdo baseados em fatos
concretos, de mera especulação desinformada?
Desinformação é tática de guerra e a
capacidade de separar informação de
desinformação é essencial para qualquer
órgão de inteligência. Porque seria diferente
pra gente? A Mídia está em guerra pela nossa
atenção. Tempo é dinheiro, e tempo gasto
consumindo conteúdo é dinheiro pra quem o
produziu. Se eu prefiro consumir o
sensacionalismo e a desinformação, contribuo
pra que isso se perpetue. Se eu prefiro
consumir a informação baseada em fatos,
contribuo pra que isso se perpetue. É a lógica
econômica colocada em prática.
Se a divulgação cientifica é um pequeno
nicho de mercado, cabe a nós consumidores
consumi-la. Se a divulgação cientifica não é
atraente para o consumidor, cabe a nós
produtores de conteúdo torna-la atraente. Não
muito tempo atrás videogames eram um
pequeno nicho de mercado, hoje é uma das
maiores indústrias do entretenimento. Por
quê? Por que os jogos estão cada vez mais
atraentes para o consumidor.
A ciência vende. Ou melhor, o discurso
científico vende (ou você acha que
propagandas de pasta de dente sempre tem
alguém de jaleco branco porque é bonito?).
Mas então, por que a divulgação científica não
vende? Ora, falta conteúdo no discurso
científico, e discurso no conteúdo científico. Se
por um lado o cientista não se preocupa com
seu discurso (só quem lê artigos científicos
sabe o esforço que é ler alguns por aí), o
sensacionalista não se preocupa com seu
conteúdo. Não é a toa que o maior ícone da
divulgação científica, Carl Sagan, aliava o dom
do discurso com o conteúdo científico. A
receita de sucesso da divulgação científica.
Eu não tenho pretensões de me
comparar a Carl Sagan, nem de definir o que é
o discurso ou o conteúdo ideal pra divulgação
científica. Meu papel aqui é o de instigador, o
de fazer você questionar o que consome e o
como você consome. Eu tento passar o que
aprendi desde criança, que é legal e divertido
questionar-se sobre o mundo, que é legal e
divertido aprender sobre o mundo. Por isso
colaboro com a Explora. Por isso resolvi
estudar e trabalhar com biologia. Por isso o
meu filtro sempre começa com uma simples
pergunta: Será?
João Doria
Revisor
Explora Web Magazine 3