Do Editor
Acada nova edição é inevitável olhar pra trás e tentar entender o espaço que começamos a ocupar. Mais do que o espaço, surgem perguntas sobre o que somos, o que fazemos, um processo continuo de construção de identidade e função. Não podemos existir simplesmente por existir, queremos transmitir algo, ensinar alguém, fomentar pensamentos críticos, ou apenas sensibilizar.
Neste caminho acabamos pensando em nossa origem. Surgimos no meio acadêmico, e n t r e c o n s t r u t o r e s d e c i ê n c i a, m a s ansiávamos ir para além de nossos muros, tocar os não cientistas, apaixonar os não apaixonados. Mas tudo isso para que? Para quem?
Entre cientistas, pelo menos uma visão é quase unânime, a da necessidade de publicar os resultados dos trabalhos científicos. Esse ato de publicar chamamos de produção científica, que logo nos remete a sistemas produtivos, a produtos, e a monetarização. Não que a publicação seja geradora de renda, e sim, efetivamente a moeda. Resultado: luta desenfreada por a u m e n t a r a q u a n t i d a d e d e a r t i g o s publicados, pois eles acabam sendo utilizados para definir a qualidade do pesquisador.
Mas onde quero chegar com isso? O que mede a qualidade do pesquisador é a publicação dos artigos em periódicos científicos, que têm como público alvo a própria comunidade acadêmica. Esses artigos são regados a incontáveis termos técnicos, linguagem complexa e forma padrão, logo, não são nada atrativos, a não ser para os próprios pesquisadores. Uma função e l e s c u m p r e m i n e g a v e l m e n t e, a disseminação da ciência entre os cientistas, mas e o público geral, os não cientistas? Nem se quer as revistas de divulgação de ciência são consumidas pelos“ não cientistas”. Isso, porque mesmo sendo escrita com termos mais brandos, ainda sim tem cara de material feito para cientistas, ou simpatizantes.
E quem vai escrever para o público em geral? Quando eu falo escrever, entenda-se divulgar, divulgar a ciência, os resultados diretos e indiretos, tocar, sensibilizar, transmitir informação, mudar pensamentos, fomentar novas atitudes. A ciência deve ter esse lado, temos todo o potencial para despertar tudo isso, basta começarmos a embutir em nossos projetos, em nosso cotidiano, a cultura de se preocupar em disseminar o conhecimento gerado. Matérias em jornais populares, revistas, vídeos educativos, vídeos para internet, entrevistas em televisão, muitas ferramentas estão ao alcance. Alguns já fazem isso com proficiência e sabedoria, mas a maioria está muito longe, acreditam que publicar seus trabalhos em periódicos científicos esgotam suas responsabilidades com a divulgação das pesquisas.
Não é fácil, a tarefa é árdua, mas recompensadora. Em cada novo trabalho de divulgação aprendemos um pouco mais, escutando os leitores melhoramos a forma de transmissão, e aos poucos vamos nos tornando parte da informação consumida por todos. Quem viu Procurando Nemo e não gostou? Mesmo sem perceber, quem assistiu aprendeu informações de qualidade. Quem melhor do que quem produz a ciência para falar sobre ela? Acabariam com o desentendimento entre ciência e mídia, ajudaríamos a mudar o perfil arrogante do cientista que encontra erros em toda informação transmitida.
Continuamos tentando, e contribuindo para o treino dessa habilidade entre os acostumados a escrever somente para cientistas.
Edson Faria Júnior Diretor Geral
E x p l o r a W e b M a g a z i n e 3