receção a comitiva do duque de Sabóia (casamento de
D. Josefa, filha do monarca).
D. João V não poupou esforços para trazer ópera a
Portugal, dentro das melhores condições tanto no que
diz respeito a cantores quanto a instrumentos, indo
buscá-los a Itália por alto preço. Por outro lado, não
deixou de enviar ao mesmo país compositores
portugueses para estudarem «in loco», a arte de
realizar óperas no estilo italiano. Um dos primeiros foi
António Teixeira, que para ali foi na segunda década
do século XVIII (1714). Uns anos mais tarde foi a vez
de Francisco Antonio de Almeida.
A loucura da ópera em Portugal correspondeu ao
reinado de D. Jose I, que mandou construir a Ópera do
Tejo, teatro grandioso que se estreou com
«Alessandro nell Indie» de David Perez, numa
No entanto, a pressão da Inquisição, em matéria representação magnífica. Este teatro pouco durou,
religiosa, desde 1536, secundada pela ação da pois foi destruído pelo terramoto de 1755, poucos
Companhia de Jesus, recentemente fundada e meses após a conclusão da sua construção. Foram
introduzida entre nós em 1540, havia m impedido, ouvidos em Portugal durante este reindo numerosos
em grande parte, a expansão do pensamento, cantores italianos célebres, alguns «castrati», pagos a
conduzindo a perseguições cruéis e a expatriação de peso de ouro.
espíritos abertos e clarividentes. A atmosfera
mantinha-se limitada, diríamos mesmo acanhada, Foi no novo teatro da Ribeira dos Condes, construído
apesar dos esforços de notáveis estadistas como o após o terramoto, que se exibiu a bela e célebre
Conde de Ericeira e mais ainda o Marquês de cantora Zamperini, que causou escândalo pelas suas
Pombal, que fora nosso diplomata no estrangeiro e, relações com o filho do Marquês de Pombal. Disto
portanto, aí tomara contacto pessoal com a nova resultou não só o seu afastamento, mas ainda a
mentalidade que se ia impondo. proibição de que «mulheres se apresentassem nos
nossos palcos», onde eram substituídas por
O fausto da corte de D. João V, que em tudo queria sopranistas, homens dotados de uma voz muito aguda.
imitar a francesa e a austríaca, não podia deixar de Esta proibição continuou no reinado de D. Maria I e
se inclinar para a ópera, género já muito difundido foi mantida até 1799, já após a inauguração do S.
na época, como sabemos, quer nos círculos da Carlos. O facto apontado foi grandemente
nobreza, quer mesmo publicamente. prejudicial, pois cantoras, como a nossa Luísa Todi,
tiveram que ir para o estrangeiro para fazerem
Julga-se que a ópera chegou a Portugal já no
carreira.
reinado de D. Pedro II (1682) por ocasião da
JANEIRO
2018
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EUFONIA
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