Esqueci do mundo por uns minutos Esqueci do mundo por uns minutos | Page 8
a película passava pelo processo conhecido por “revelação”.
Após o processo, o fotógrafo e os demais expectadores
poderiam ver como ficaram as imagens captadas e
muitas delas causavam surpresa, pois poderiam ter ficado
diferentes da expectativa do fotógrafo. A luz poderia sair
diferente, o enquadramento não ficou como planejado...
Mas esse processo trazia também boas surpresas: luzes e
enquadramentos superavam as expectativas do fotógrafo;
às vezes, informações, detalhes não visíveis no momento
da captura se revelavam na fotografia. Assim acontece
com as estórias. Cada uma delas apresenta aspectos,
narrativas, climas, tramas, sentidos surpreendentes, e tudo
o que foi revelado nos textos, de algum jeito, está presente
na foto ponto de partida. Talvez não estivessem visíveis
explicitamente na imagem, mas os autores/leitores, que
chamo aqui, sem constrangimento, de alquimistas de
palavras, revelaram em textos o que há na imagem ponto de
partida. E assim, cada autor revelou a imagem a seu modo.
Para os leitores, há também uma proposta bastante
sedutora, um tipo de jogo, uma espécie de leitura triangular:
em um vértice se encontra a imagem ponto de partida; no
segundo vértice, as narrativas reveladas pelos autores/
leitores; no terceiro vértice, as infinitas possibilidades de
leituras feitas pela interseção entre textos e imagens. Essa,
suponho, seja a melhor parte: cabe ao leitor acessar essas
infinitas possibilidades de sentido que se dão nas interseções
propostas por uma obra que, sem sombra de dúvida, pode
ser considerada intermidiática: uma obra que se faz num
espaço entre imagem e texto.
Faz-se necessário então, agora, apagar as rígidas
diferenças entre o que se percebe como texto, e o que se
percebe como imagem. Se considerado o aspecto material,
pode se pensar na imagem como representação visual que
se materializa nos desenhos, pinturas, gravuras, fotos,
imagens em movimento e em tudo aquilo que é possível
ser suporte de imagem. O mesmo ocorre com o texto:
materializa-se em folhas de papel, livros, revistas, suportes
digitais e em tudo mais que for possível servir como suporte
de palavras, até mesmo gravações em áudio. No entanto, a
origem da palavra Imagem, Imago, do Latim, aponta para
um domínio imaterial: as imagens também são visões,
imaginações, fantasias... Algo semelhante acontece com a
origem latina da palavra Texto; Textum, imaterialmente,
significa entrelaçamento, costura, trama, o que é tecido.
Logo, um leitor, ao se aventurar nas tramas propostas pelo
texto, cria imagens, visões que, de certa forma se costuram
às palavras. Indubitavelmente, o leitor, ao se aventurar
na leitura de imagens, cria textos, contextos, estórias que
também se costuram às imagens. Eis o que este e-book
propõe: interseção, entrelaçamento, costura, imagem,
fotografia, palavra, texto. Revelação! Há limites rígidos?
Para finalizar, volto a Confúcio e, com todo respeito,
proponho uma réplica: se uma imagem vale mais que mil
palavras, uma palavra também vale mais que mil imagens.
Penso não fazer sentido em defender o que vale mais, se a
palavra ou imagem, pois nunca se opuseram. Ao contrário,
sempre se entrelaçaram.
Vamos então esquecer o mundo por alguns minutos?
André Meyerewicz
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