Entrecontos Agosto/18 - Número 001 entrecontos agosto 2018 numero 1 | Page 28

crônica VOCÊ FAZ CHUPETA? por Adriano Villa

Não sou muito chegado em viajar em feriados prolongados, mas às vezes, sair da ro na não faz mal a ninguém, não é verdade? Depois de caros pedágios e de um trânsito capaz de acabar com a paciência de qualquer Jó, finalmente chegamos à praia. Já era tarde da noite o que limitou nossas opções de diver mento, após guardar o carro na garagem do hotel, aproveitamos as úl mas horas daquele dia para jantar e dar um passeio pela orla da praia sob promessas de acordar cedo na manhã seguinte.

Seguimos o combinado e logo pela manhã estávamos indo para a praia. Arrumamos duas espreguiçadeiras com guarda-sol próximo do mar e ficamos ali cur ndo a brisa sob efeito de algumas cervejas, caipirinhas, raspadinhas e etc.
No final da tarde voltamos ao hotel, tomamos um banho e saímos para aproveitar a noite mal sabendo a surpresa que nos aguardava pela manhã. Como havíamos cur do bem a praia, achamos melhor pegar a estrada logo cedo para evitar trânsito. Na manhã seguinte, arrumamos nossas coisas, pagamos a estadia e seguimos para o estacionamento do hotel. Estávamos confiantes que teríamos um retorno tranquilo, porém, ao girar a chave na ignição, o carro simplesmente não funcionou.
Estranhamos. O carro havia passado por uma revisão, tudo estava em perfeito estado de funcionamento. Ficamos preocupados, mas o manobrista do hotel ao perceber nosso problema, disse que havia percebido que havíamos deixado o farol ligado na noite anterior... Eu e minha esposa nos entreolhamos, mas não nhamos disposição para dizer poucas e boas, além do mais, agora sabíamos que o nosso problema era a bateria descarregada e não precisávamos chamar nenhum mecânico local que poderia nos cobrar os olhos da cara.
Deixei a esposa no hotel e comecei a busca por um cabo de transmissão de carga. Seria uma missão um tanto que impossível, um desconhecido pedindo um cabo emprestado. Por sorte, uma senhora que cuidava de um estacionamento foi com a minha cara e emprestou na maior confiança. Voltei para a rua do hotel e ao ver minha esposa, ergui o cabo como se fosse o troféu da São Silvestre. Ela sorriu e no mesmo instante virou-se para um homem sem camisa que estava do outro lado da calçada mexendo em seu carro, perguntou: Moço, agora você pode fazer a chupeta?
Não pude conter o riso e como estava mais tranquilo, não resis em emendar: pô amor, como assim ficar perguntando para os outros se fazem chupeta na rua? Ela e o motorista-gen l riram e logo estávamos os três ali, com os carros de frente um para o outro fazendo a dita chupeta em nossa bateria, é claro. Não demorou muito para o carro voltar à tona. Agradecemos ao simpá co cidadão e logo em seguida fomos devolver o cabo. A mulher não ficou surpresa com o meu retorno. Conversamos um pouco e deixamos o carro ali no estacionamento para um úl mo mergulho.
Acabamos demorando mais do que o esperado. Pagamos o estacionamento e nos colocamos rumo à nossa casa torcendo para não pegarmos muito trânsito. Subimos conversando sobre muitas coisas, entre elas, o fato dela chegar ao ponto de ficar perguntando para desconhecidos se fazem chupeta ou não. Um grande exemplo de algo ruim que pode terminar em um final feliz.
Gostaria de saber quem foi que decidiu dar esse nome a ligação de bateria a bateria em carros? Será que não chegaram a pensar que poderia ser constrangedor? Imagine se o seu carro para em plena Marginal ou em alguma rua escura, você encosta e de repente um homem de bom coração se condói, para e pergunta: Qual o problema? Você responde: Bateria. E ele: Quer que eu faça uma chupeta? Impossível não pensar besteira, não é verdade?
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