COL U N A
D O
G E ÓLOG O
Estratégias de programas de exploração mineral
De acordo com a legislação brasileira (Código de Mineração),
uma concessão de lavra para qualquer empreendedor só é possí-
vel se:
• Há um Relatório de Pesquisa Positivo apresentado à ANM/
DNPM materializando resultados de atividades de pesquisa den-
tro de patamares confiáveis (QA/QC) segundo critérios (Controles
de Qualidade) orientados pela Comissão Brasileira de Recursos e
Reservas (CBRR), em relação à quantificação e caracterização dos
recursos minerais (na fase de exploração) e classificação das reser-
vas minerais bloqueadas (na fase de implantação do projeto)
• Existem estudos de impactos ambientais apresentados e
aprovados pelos órgãos competentes que emitem LP, LI e LO (Li-
cenças Prévia, de Instalação e de Operação, respectivamente) para
cada fase do projeto
Exploração mineral pode ser rotulada como negócio complexo
do ponto de vista dos princípios de gerenciamento, uma vez que a
previsibilidade do modelo geológico utilizado para embasar estra-
tégias de exploração depende da qualidade e quantidade de dados
disponíveis em cada etapa do programa de pesquisa.
Por outro lado, há uma outra perspectiva que deve ser consi-
derada: exploração mineral pode ser uma atividade relativamente
simples, o que não significa que seja fácil.
A escolha do melhor caminho para alcançar metas com suces-
so depende da capacidade (experiência) do time de exploração em
reconhecer sinais de processos geológicos, com chances de hospe-
dar depósitos minerais.
Por exemplo, se um programa de exploração mineral tem por
objetivo encontrar depósitos de ouro é imprescindível que se co-
nheça o panorama geral sobre os diferentes tipos de depósitos (ou
estilos diferentes de mineralização). A escolha do melhor caminho
para testar o ambiente geológico selecionado, visando alcançar re-
sultados com sucesso, depende da capacidade/comprometimento
do time de exploração para aprender a reconhecer feições geoló-
gicas relevantes (litologias, estruturas e halos de alteração hidro-
termal), que permitam embasar decisões para definir estratégias
de exploração. Isso significa, resumidamente, levantar hipóteses
sobre processos genéticos e mecanismos relacionados a controle
de deposição de ouro.
Uma revisão simples em referência à evolução de conceitos
relacionados aos ambientes hospedeiros de mineralizações econô-
micas de ouro ao longo de tempo relativamente recente pode ser
assim resumido (Leonardos, O.,H, 1994):
• Até o final da década de 1970 (aproximadamente) metade da
produção mundial de ouro estava assoada a depósitos de conglo-
merados tipo Witwatersrand (África do Sul)
• Até a década de 1960, prevaleciam os modelos magmáticos
hidrotermais os quais foram amplamente revisados na década de
1970 e cujo resultado conduziu a inúmeras descobertas de depó-
sitos de metais base (ouro como subproduto) a partir do estabe-
lecimento de um novo de novo paradigma: “processos vulcânicos-
-exalativos” em sequências vulcano-sedimentares (do Arqueano
ao Fanerozoico). Nessa época, grandes investimentos em explora-
ção foram canalizados para os Greenstone Belts Arqueanos, o que
resultou na descoberta de inúmeros depósitos de ouro no Canadá,
Austrália, Brasil e África do Sul. Por outro lado, os depósitos ex-
clusivamente auríferos com contribuição insignificante de metais
básicos denominados Archean Load Deposits (de ocorrência fre-
quente nos terrenos Granito-Greenstone) não puderam ser ade-
quadamente explicados
• Na década de 1980, o avanço nos conceitos de geologia
estrutural permitiu estabelecer uma definição abrangente para
zonas de cisalhamento, possibilitando entender os processos si-
multâneos de deformação, metamorfismo, migração de fluidos e
alteração hidrotermal com mecanismos de extração, transporte e
deposição de ouro nesse contexto
• Concomitantemente aos estudos de mineralizações de
ouro em zonas de cisalhamento, foram descobertas jazidas clas-
se mundial do tipo ouro (cobre) pórfiro (exemplo, mina Panguna/
Papua Nova Guiné), skarn (mina Ok Teddy/Papua Nova Guiné) e
epitermal (Lihir/Papua Nova Guiné e El Indio/Chile), o que deter-
minou grandes esforços de exploração (investimentos de grandes
empresas) direcionados para países do Cinturão Circum Pacífico
onde sistemas hidrotermais em complexos vulcânicos-plutônicos
hospedam tais tipos de depósitos
• No Brasil, a descoberta de depósitos de ouro em rochas
granitóides no cráton amazônico (sistema vulcânico-plutônico da
Província Mineral do Tapajós, de idade mais antiga em relação ao
Cinturão Circum Pacífico) que se apresentam com características
similares aos depósitos ouro (cobre) pórfiro, estão redirecionando
investimentos em programas de exploração para esse tipo de am-
biente, e o exemplo mais recente vem da Província Mineral de Alta
Floresta localizada no norte do estado do Mato Grosso
Essa lista de eventos (acima) que destaca a evolução de mode-
los geológicos conceituais - reconhecidos pela comunidade cientí-
fica e empresas - exemplifica e dimensiona a importância de pro-
postas inovadoras na tentativa de desenvolver novos paradigmas
a partir das experiências de campo.
O prêmio relacionado aos resultados gerados (com ideias
inovadoras) é muito alto e, assim sendo, os times de exploração
responsáveis pelos modelos inovadores devem (deveriam) ser os
primeiros a aplicar essa vantagem para alcançar o sucesso em seus
esforços de exploração.
O maior desafio é manter disciplina e foco.
Nota: investimentos em programas de exploração exigem decisões
que envolvem altos riscos de retorno do capital investido. Então,
mesmo com ambientes geológicos atrativos, se não há um cenário
de segurança jurídica, os recursos de exploração não chegam.
Referências:
Anotações de curso “Geologia do Ouro”
ministrado pelo Professor Othon Henry
Leonardos no Simpósio de Geologia da
Amazônia, 1994;
How to Appraise Mineral Resources,
Brian W. Mackenzie International Sym-
posium on Brazilian Mining, Salvador/
BA, 6-8 November 1995.
*Vitor Mirim é geólogo de exploração da VRM Geologia e Mineração
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OUTUBRO / NOVEMBRO | 2018