Edição 570 - Setembro edição 570 setembro | Page 4
E
d i t o r i a l
Concessões e PPPs precisam de banco
de projetos com qualidade
Mesmo no atual cenário politico e econômico
complexo, este é um momento de celebração.
O Ranking da Engenharia Brasileira 2018 da revista
OE , que foi lançado em agosto passado, mostra que após
três anos de queda severa o mercado de engenharia fez
uma inflexão para cima em 2017 e cresceu 4,10%!
Esse resultado auspicioso foi possível com o
crescimento do setor de Construção em 9,64% e
do setor de Serviços Especiais de Engenharia em
15,40%, contrabalançando as variações anuais ain-
da negativas dos segmentos de Projetos & Gerencia-
mento e Montagem Industrial. Estes números foram
gerados pela pesquisa do Ranking da Engenharia
Brasileira 2018 que envolveu 3 mil empresas.
Sabemos que essa mudança de cenário é fruto de
uma verdadeira reinvenção da atividade de engenharia
diante da queda drástica dos investimentos públicos em infraestrutura que, em
parte, foi balanceada pelos investimentos das concessionárias privadas e fluxo
de recursos também privados direcionados para empreendimentos industriais,
logística, do comércio e serviços — como shoppings, hospitais, hotéis etc. - e que
tem na mira o mercado doméstico no médio prazo ou as exportações.
É o caso do projeto de celulose solúvel da Duratex associada à Len-
zing da Áustria, e outro da RGE da Indonésia, que comprou a Lwarcel
— que somam R$ 7 bilhões!
A Sterlite da Índia, que ganhou em leilão linhas de transmissão, já se
comprometeu com inversão de R$ 7 bilhões. São apenas dois exemplos.
INVESTIMENTOS PRIVADOS ANUNCIADOS
PARA 2018 EM DIANTE
Infraestrutura - R$ 40 bilhões
Indústria - R$ 28 bilhões
Comércio/Serviços - R$ 15 bilhões
Nesse processo nos anos recentes, o mercado antes engessado de
obras públicas adquiriu outra dinâmica, as lideranças regionais se forta-
leceram, instalou-se um ambiente competitivo renovado.
Todas as empresas participantes do ranking merecem nosso reco-
nhecimento — porque enfrentaram as expectativas pouco animadoras
do mercado com trabalho e espírito de inovação....
Esse princípio de retomada no mercado de engenharia pode se
acelerar no programa mínimo de governo dos próximos presidente e
governadores, se a construção imobiliária e as obras de infraestrutura
ocupassem o topo das prioridades.
Países industrializados e emergentes recorrem a investimentos ma-
ciços na infraestrutura para reaquecer suas economias em períodos re-
cessivos. O Brasil não poderia fazer diferente. Mas se as finanças públi-
cas atravessam grave crise fiscal, de onde virão os recursos?
O economista Luciano Coutinho, que já presidiu o BNDES, escreveu no
4 |
| S e t e m b r o 2018
jornal “Valor” que a solução é estruturar um conjunto
de medidas sólidas para atrair os investidores privados
a um amplo programa de concessões e parcerias pú-
blicos privadas, formando um arcabouço a ser seguido
pelas três esferas de governo — de modo que o con-
tratante público possa percorrer uma rota conhecida
por ele e pelos agentes do mercado, ao invés de come-
çar o processo cada vez da estaca zero.
A primeira tarefa é montar uma ampla carteira
de projetos, estimada por Luciano Coutinho em R$
800 bilhões em valor de investimento em obras, de
modo que os que oferecessem melhor custo/bene-
fício sejam priorizados.
Ele sugere que as empresas projetistas e gerencia-
doras sejam contratadas para esse esforço concentrado,
através dos ministérios ligados a Transportes, Energia, Saneamento, Habitação,
Saúde e Educação, e também pelo BNDES, Eletrobras, e agências multilaterais,
como o BID e o International Finance Corporation do Banco Mundial.
Esse pacote de projetos executivos de alta qualidade pode custar até
R$ 40 bilhões para ser concluído, mas daria condições ao governo elencar
as prioridades nos vários setores, de modo que os investimentos em infraes-
trutura possam saltar de 1,5% do PIB — cerca de R$ 105 bilhões, previstos
para 2018 — para 5% do PIB, ou seja R$ 355 bilhões, nos próximos anos.
Outra condição primordial é fortalecer as agências reguladoras, com
autonomia e qualificação das suas equipes. É condição obrigatória para
atrair investidores institucionais de porte do mercado global.
O BNDES ainda é a principal fonte para financiamentos de longo prazo para
projetos de infraestrutura — mas há participação crescente do mercado de capitais.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro
e de Capitais, as emissões de debêntures nos primeiros sete meses do ano
alcançaram R$ 83 bilhões, captados. Somente em debêntures de infraes-
trutura, foram levantados R$ 13,2 bilhões em 28 operações, nível recorde.
Luciano Coutinho lembra que “investimentos maciço em infraestru-
tura não acontecem automaticamente a partir da conquista da confiança.
O planejamento, os projetos de qualidade, a regulação e o financiamento
são condições fundamentais a serem construídas. E demandarão, do pró-
ximo governo, muita dedicação e trabalho árduo”.
Com projetos bem estruturados, ressalta Coutinho, os investidores
poderão calcular com segurança os investimentos e o retorno, e os con-
tratantes públicos poderão estabelecer as condições dos leilões de forma
segura. Isso vai atrair naturalmente um número crescente de interessados.
O Fórum INFRA2020 que a revista realizou no dia de premiação
do Ranking da Engenharia Brasileira, reuniu algumas das principais
concessionárias de energia, ferrovias, transporte metropolitano e sanea-
mento, que confirmaram sua disposição em investir em novos empreen-
dimentos de infraestrutura. O governo precisa melhorar rápido a parte
que lhe cabe — para tornar esse clima de investimento mais competitivo.