Edição 569 Julho/Agosto EDIÇÃO 569 | Page 5

EDITORIAL Investir na infraestrutura é preciso, via concessões e PPPs No programa mínimo de governo dos candidatos presiden- ciáveis, a construção imobiliária e as obras de infraestrutura deveriam ocupar o topo da lista de prioridades. Países indus- trializados e emergentes recorrem a investimentos maciços na infraestrutura para reaquecer suas economias em períodos re- cessivos. O Brasil não poderia fazer diferente. Mas se as finanças públicas atravessam grave crise fiscal, de onde virão os recursos? O economista Luciano Coutinho, que já presidiu o BN- DES, escreveu no jornal Valor que a solução é estruturar um conjunto de medidas sólidas para atrair os investidores pri- vados a um amplo programa de concessões e PPP, forman- do um arcabouço a ser seguido pelas três esferas de gover- no — de modo que o contratante público possa percorrer uma rota conhecida por ele e pelos agentes do mercado, ao invés de começar o processo cada vez da estaca zero. A primeira tarefa é montar uma ampla carteira de pro- jetos, estimada por ele em R$ 800 bilhões em valor de in- vestimento, de modo que os que ofereçam melhor custo/be- nefício sejam priorizados. Coutinho sugere que as empresas projetistas e gerenciadoras do mercado de engenharia sejam contratadas para esse esforço concentrado, através dos mi- nistérios ligados a Transportes, Energia, Saneamento, Habi- tação, Saúde e Educação, e também pelo BNDES, Eletrobrás, e agências multilaterais como BID e IFC do Banco Mundial. Esse pacote de pro- jetos executivos de alta qualidade pode custar até R$ 40 bilhões para ser concluído, mas daria condições ao governo elencar as prioridades nos vários setores, de modo que os investimentos possam saltar de 1,5% do PIB — cerca de R$ 105 bilhões, previstos para 2018 — para 5% do PIB, ou seja R$ 355 bilhões, nos próximos anos. Com projetos bem estruturados, ressalta Coutinho, os investidores podem calcular com segurança os investimen- tos e o retorno, e os contratantes públicos poderão esta- belecer as condições dos leilões de forma segura. Isso vai atrair naturalmente um número crescente de interessados. Aliviaria ainda a sobrecarga do TCU — que hoje precisa pré- -aprovar todos os editais relevantes. Outra condição primordial é fortalecer as agências regu- ladoras, com autonomia e qualificação das suas equipes. É condição obrigatória para atrair investidores institucionais de porte do mercado global. Coutinho aponta que o foco das agências deveria estar em dinamizar as condições para atrair mais investimentos ao setor; aplicar multas pesadas (embora necessárias) não estimula negócios. O BNDES ainda é a principal fonte para financiamentos de longo prazo para projetos de infraestrutura — estimulando-se ao mesmo tempo a participação crescente do mercado de ca- pitais. Segundo a entidade Anbima, as emissões de debêntures nos primeiros sete meses do ano alcançaram R$ 83 bilhões, ficando atrás apenas do ano passado com R$ 96,3 bilhões captados. Somente em debêntures de infraestrutura, foram levantados R$13,2 bilhões em 28 operações, nível recorde. Luciano Coutinho lembra que “investimentos maciço em infraestrutura não acontece automaticamente a par- tir da conquista da confiança. O planejamento, os projetos de qualidade, a regulação e o financiamento são condições fundamentais a serem construídas. Demandarão, do próxi- mo governo, muita dedicação e trabalho árduo”. www.revistaoempreiteiro.com.br | 3