E d i t o r i a l
Círculo vicioso a ser rompido
O prédio invadido que ruiu durante um incêndio, em São Paulo, em 1 º de Maio passado, simboliza a má gestão do bem público, construído sempre com recursos oriundos da arrecadação de impostos que incidem sobre a receita produzida pelas empresas e pessoas físicas. A sociedade produtiva paga a conta e não recebe retorno.
Guardadas as proporções, o mesmo acontece quando uma via urbana recapeada cuja pista durou apenas algumas semanas; quando as torneiras das casas estão secas no verão; se uma chuva mais pesada faz apagar a rede de energia de um bairro inteiro e inunda os mesmos sítios conhecidos há décadas, submergindo carros e casas; semáforos se apagam paralisando o tráfego; linhas de metrô reduzem a velocidade, deixando as estações abarrotadas de passageiros— repetindo algo que acontece há anos.
A Baía da Guanabara no Rio continuar poluída após os Jogos Olímpicos 2016 e os rios Pinheiros e Tietê idem em São Paulo, a despeito de programas de despoluição conduzidas por sucessivos governos estaduais. Enquanto isso, vemos escolas públicas, postos de saúde e habitação social que carecem de manutenção ou reforma— tudo isso se tornou regra geral e não exceção...
As falhas da gestão pública é fato notório; os vícios das licitações públicas de obras são recorrentes há décadas, sem solução à vista. O atraso tecnológico nos órgãos públicos, onde a papelada continua a se acumular, ignora os avanços da tecnologia da informação que já se difundiram nos setores privados da economia. Enfim, quando vai se mudar a velha prática de centralizar toda a gestão pública em torno de poucas personagens— seja prefeito, governador, ministro ou presidente— como se os quadros técnicos fossem meros figurantes decorativos.
Uma publicação dedicada à engenharia como a revista OE se vê obrigada a indagar: e como ficam as empresas de engenharia e as instituições da classe neste cenário caótico? Na conjuntura atual em que os eleitores se mostram fartos da velha política, conhecidas incompetências— para sermos diplomáticos – e práticas condenáveis, e clamam pela renovação no Executivo e Legislativo, é de se esperar que soprem ventos parecidos também nas atividades de engenharia dedicadas à infraestrutura e construção.
Arriscamo-nos a propor que o trinômio custo--prazo-qualidade seja resgatado pela engenharia no que concerne a obras públicas— começando pelo projeto detalhado de engenharia no formato BIM à disposição dos interessados na licitação. Evitar a modalidade fast track que é o caminho certo para estouros de orçamento e prazos. As empresas de engenharia só vão recuperar o respeito da opinião pública quando cumprirem os contratos assinados em termos de custos, prazo e qualidade.
Aliás, qualidade merece um destaque à parte. Toda obra precisa respeitar as normas técnicas e quem a construiu precisa dar garantia de qualidade. Dentro do prazo de garantia, a construtora e o projetista ficam responsáveis por eventuais reparos. Obra pública não pode mais ser sinônimo de coisa mal feita.
É verdade que os órgãos contratantes sofrem há décadas com falta de recursos e pessoal. Os drones e fotos aéreas georefenciadas estão aí para atestar que a presença humana pode ser substituída pela tecnologia. Um técnico competente agora pode monitorar diversas obras, do seu escritório. No final das contas, são as práticas que precisam mudar e a transparência prevalecer.
4 | | Abril / Maio 2018