E d i t o r i a l
Em tempo de protestos, a engenharia está quase sem voz
Enquanto esquenta o debate sobre o colapso da velha política com suas práticas condenadas— inclusive na Justiça—, surgem as nem tão novas figuras ansiosas em ocupar o vazio que se abriu, mas sem conseguir renovar suas desgastadas cartilhas, enquanto que novos personagens batalham para angariar recursos e tempo na TV— e conquistar as corações e mentes dos eleitores.
No ar, o indiscutível anseio generalizado de mudanças. Basta o desvio ilícito de bilhões quando falta de tudo para a população mais necessitada— escolas, postos de saúde, hospitais, água e esgoto, tapa-buracos nas vias urbanas, transporte de massa, segurança nas ruas etc. etc. Se o Banco Central rastreia as operações financeiras do mercado, com os mesmos instrumentos monitoraria o destino final dos recursos públicos...
O governo nas três instâncias continua digladiando entre si para dividir recursos para custear as máquinas administrativas- que não param de crescer em quadros de funcionários. É a maldição que se repete a cada quatro anos quando o gestor
Ousadia da engenharia na ligação ferroviária Curitiba-Paranaguá
eleito repete a prática de contratar mais“ eleitores” para garantir seus votos.
As três esferas de administração reconhecem que não tem como investir e mais uma vez voltam a apelar para PPPs e concessões. Deveriam também admitir que não tem competência para formatar esses empreendimentos— salvo raras exceções— e acionar as empresas de engenharia do mercado. O mercado global de engenharia movimentou cerca de US $ 500 bilhões em 2016, segundo a revista ENR, e o Brasil ganhou migalhas.
O agronegócio continua sendo a locomotiva da economia brasileira e seu lobby trabalha com muita eficiência. A indústria automotiva tenta manter as suas regalias- mesmo com as cidades brasileiras já saturadas de automóveis. A mineração e a indústria do petróleo aparecem com frequência na imprensa por seu papel nas exportações. A engenharia nos tempos recentes só frequenta o noticiário policial— e ouvimos raras e esporádicas manifestações de instituições em sua defesa enquanto engenharia— desvinculada das práticas negociais antiéticas.
Quem as cometeu tem que se entender com a Justiça. Mas porque toda a engenharia no seu vasto universo precisa se sentir intimidada? A revista O Empreiteiro convoca aqui os engenheiros com raça e sangue nas veias para se manifestarem- no sentido de preservar e valorizar as conquistas da atividade que construiu literalmente o País ao longo do tempo. Foi a engenharia que ergueu a infraestrutura— obsoleta hoje em diversas regiões, é
4 | | Janeiro 2018