Edição 562 Julho/Agosto revistaOE562_V2b_11OUT | Page 16

C e n á r I o s

“ É preciso recon�ecer o atraso ”

Ao contrario do ufanismo de décadas atrás de que a engenharia brasileira está par a par com as nações mais evoluídas do mundo , ela deveria reconhecer que está hoje muito atrasada com relação ao que se pratica nos mercados desenvolvidos , diz Hugo Marques da Rosa , presidente da Metodo Engenharia . Admitir esse atraso é o primeiro passo para percorrer a trajetória para o resgate . Ele se refere em particular à engenharia de processos , onde desponta a liderança de empresas de engenharia globais porque tem condições de manter as suas equipes e expertise ao longo dos ciclos econômicos .
Hugo cita o exemplo das refinarias de petróleo , onde as plantas novas do País estão visivelmente atrasadas em termos de tecnologia de processos . Ninguém nega que a Petrobras é líder em exploração e produção em águas ultraprofundas . Mas o mesmo não ocorre na refinação dos produtos de petróleo , porque a tecnologia de processos ficou estagnada por conta do monopólio no setor . Sem concorrência , não há evolução . Além disso , o Brasil ficou 38 anos sem construir uma nova refinaria .
Em engenharia estrutural , Hugo afirma que o País está ao nível equivalente de outras nações . Lembra , entretanto , a falta de concorrência real em obras de infraestrutura , onde algumas grandes empresas criavam obras que eram ofertadas aos contratantes públicos , como se fossem brokers , gerando distorções colossais . Ele ousa citar — lembrando que vai ser criticado por isso — que a ponte estaiada Octavio Frias , tido como o cartão postal da capital paulista , foi um colossal desperdício de dinheiro público , porque aquela função de travessia poderia ser cumprida por uma estrutura muito mais singela e barata . Hugo faz questão de ressaltar a qualidade excepcional do projeto estrutural da ponte estaiada em questão — “ mas obras públicas tem obrigação de priorizar custo-benefício ”, diz .
Ele cita o exemplo ainda da construtora coreana Samsung C & T Corporation que executou o edifício mais alto do mundo , batizado como Burj Khalifa , em Dubai , Emirados Árabes , com 828 m de altura . A equipe multilíngue fazia ciclos de três dias para concretagem naquelas alturas . “ Nós não conseguimos essa produção no quatro andar de nossos prédios aqui ”, cita .
Outro aspecto crucial é a globalização da engenharia no País , que só a prática da concorrência real vai propiciar e trazer benefícios ao mercado brasileiro . Ele lembra que muitas empresas globais que chegaram ao País não permaneceram . Outras ingressaram no mercado brasileiro em tempos recentes com muita expectativa ainda não cumpridas . Mas o País precisa levar avante as reformas estruturais e políticas , para que empresas e players globais que tem muito a contribuir decidam ficar .
Há muitos países emergentes requisitando expertise e capacidade de atrair recursos privados de funding , aponta Hugo . “ Porém , essas empresas só permanecem em países sérios ”.
A construtora Cimcop resume as dificuldades enfrentadas hoje pelo mercado : a falta de planejamento detalhado nas contratações de obras , principalmente por parte do poder público , tanto na questão técnica quanto na questão financeira .
“ Do ponto de vista técnico , são notórias as deficiências encontradas nos projetos disponibilizados pelos contratantes , em sua grande maioria por se tratarem de projetos defasados no tempo , quando se compara a época de sua elaboração e o período de contratação da obra ”, afirma José Humberto Antunes da Silva , superintendente técnico da empresa . “ Esta situação gera impactos na correta identificação das intervenções necessárias , na quantificação dos serviços a serem executados , nos detalhes executivos , na determinação das fontes de materiais a serem utilizados na execução das obras , entre outros ”.
Para ele , essa questão é agravada de forma muito intensa pela falta de programação financeira para a execução de cada empreendimento como um todo . “ As dotações orçamentárias e os empenhos financeiros , em quase sua totalidade , não garantem a execução dos contratos nos prazos em que os mesmos foram

Pro�etos defasados �eram pre�u�zo

planejados quando dos certames licitatórios ”, afirma .
“ As contratadas então se vêm obrigatoriamente na condição de executar seus contratos por períodos intercalados , desprovidos de continuidade . Essa condição resulta em perdas de produtividade e , por consequência , em significativo aumento dos custos de execução . Tais fatos são determinantes para a ocorrência de atrasos na execução , na celebração de termos aditivos de prazo , nos ‘ estouros ’ de orçamento e nos pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro ”, explica José Humberto .
O superintendente vê dois pontos essenciais que devem ser priorizados . “ Na questão técnica , prover cada contrato de um projeto atualizado e adequado à realidade do período da contratação da obra , de forma que reflita da melhor forma as condições reais de execução . Na questão de programação financeira , promover as dotações orçamentárias e seus respectivos empenhos financeiros de maneira que não ocorram períodos de descontinuidade , potenciais causadores de acréscimos nos custos de execução ”, finaliza .
Em 2016 , a Racional Engenharia completou 45 anos . Foram cerca de 600 obras executadas , mais de 9 milhões de m ² construídos e muitas inovações . Ao longo de sua história , recebeu importantes reconhecimentos do mercado .
Um deles , especialmente , enche a empresa de orgulho : o prêmio de qualidade concedido pela Ford , quando da atuação da Racional na sua planta em Camaçari ( BA ), que a certifica a trabalhar para a marca em qualquer país do mundo . Mais recentemente , a Jaguar Land Rover reconheceu a construtora pela gestão da segurança do trabalho no canteiro de obras , após atingir a marca de 1 milhão e 300 mil horas sem acidentes com afastamento .
“ Costumo dizer que a confiança está em nosso DNA . Por meio dela con-

Confiança com 600 obras

quistamos uma carteira de clientes recorrentes , que veem consistência e coerência no que fazemos e entregamos . Mesmo com quase meio século de atuação , a Racional é uma empresa jovem , que se renova e que gosta do novo , buscando sempre antecipar tendências . Foi assim que alcançamos importantes marcos em nossa história e na história do construir no Brasil ”, afirma Newton Simões , presidente da Racional Engenharia .
14 | | Julho / Agosto 2017