C e n á r I o s
“ É preciso recon�ecer o atraso”
Ao contrario do ufanismo de décadas atrás de que a engenharia brasileira está par a par com as nações mais evoluídas do mundo, ela deveria reconhecer que está hoje muito atrasada com relação ao que se pratica nos mercados desenvolvidos, diz Hugo Marques da Rosa, presidente da Metodo Engenharia. Admitir esse atraso é o primeiro passo para percorrer a trajetória para o resgate. Ele se refere em particular à engenharia de processos, onde desponta a liderança de empresas de engenharia globais porque tem condições de manter as suas equipes e expertise ao longo dos ciclos econômicos.
Hugo cita o exemplo das refinarias de petróleo, onde as plantas novas do País estão visivelmente atrasadas em termos de tecnologia de processos. Ninguém nega que a Petrobras é líder em exploração e produção em águas ultraprofundas. Mas o mesmo não ocorre na refinação dos produtos de petróleo, porque a tecnologia de processos ficou estagnada por conta do monopólio no setor. Sem concorrência, não há evolução. Além disso, o Brasil ficou 38 anos sem construir uma nova refinaria.
Em engenharia estrutural, Hugo afirma que o País está ao nível equivalente de outras nações. Lembra, entretanto, a falta de concorrência real em obras de infraestrutura, onde algumas grandes empresas criavam obras que eram ofertadas aos contratantes públicos, como se fossem brokers, gerando distorções colossais. Ele ousa citar— lembrando que vai ser criticado por isso— que a ponte estaiada Octavio Frias, tido como o cartão postal da capital paulista, foi um colossal desperdício de dinheiro público, porque aquela função de travessia poderia ser cumprida por uma estrutura muito mais singela e barata. Hugo faz questão de ressaltar a qualidade excepcional do projeto estrutural da ponte estaiada em questão—“ mas obras públicas tem obrigação de priorizar custo-benefício”, diz.
Ele cita o exemplo ainda da construtora coreana Samsung C & T Corporation que executou o edifício mais alto do mundo, batizado como Burj Khalifa, em Dubai, Emirados Árabes, com 828 m de altura. A equipe multilíngue fazia ciclos de três dias para concretagem naquelas alturas.“ Nós não conseguimos essa produção no quatro andar de nossos prédios aqui”, cita.
Outro aspecto crucial é a globalização da engenharia no País, que só a prática da concorrência real vai propiciar e trazer benefícios ao mercado brasileiro. Ele lembra que muitas empresas globais que chegaram ao País não permaneceram. Outras ingressaram no mercado brasileiro em tempos recentes com muita expectativa ainda não cumpridas. Mas o País precisa levar avante as reformas estruturais e políticas, para que empresas e players globais que tem muito a contribuir decidam ficar.
Há muitos países emergentes requisitando expertise e capacidade de atrair recursos privados de funding, aponta Hugo.“ Porém, essas empresas só permanecem em países sérios”.
A construtora Cimcop resume as dificuldades enfrentadas hoje pelo mercado: a falta de planejamento detalhado nas contratações de obras, principalmente por parte do poder público, tanto na questão técnica quanto na questão financeira.
“ Do ponto de vista técnico, são notórias as deficiências encontradas nos projetos disponibilizados pelos contratantes, em sua grande maioria por se tratarem de projetos defasados no tempo, quando se compara a época de sua elaboração e o período de contratação da obra”, afirma José Humberto Antunes da Silva, superintendente técnico da empresa.“ Esta situação gera impactos na correta identificação das intervenções necessárias, na quantificação dos serviços a serem executados, nos detalhes executivos, na determinação das fontes de materiais a serem utilizados na execução das obras, entre outros”.
Para ele, essa questão é agravada de forma muito intensa pela falta de programação financeira para a execução de cada empreendimento como um todo.“ As dotações orçamentárias e os empenhos financeiros, em quase sua totalidade, não garantem a execução dos contratos nos prazos em que os mesmos foram
Pro�etos defasados �eram pre�u�zo
planejados quando dos certames licitatórios”, afirma.
“ As contratadas então se vêm obrigatoriamente na condição de executar seus contratos por períodos intercalados, desprovidos de continuidade. Essa condição resulta em perdas de produtividade e, por consequência, em significativo aumento dos custos de execução. Tais fatos são determinantes para a ocorrência de atrasos na execução, na celebração de termos aditivos de prazo, nos‘ estouros’ de orçamento e nos pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro”, explica José Humberto.
O superintendente vê dois pontos essenciais que devem ser priorizados.“ Na questão técnica, prover cada contrato de um projeto atualizado e adequado à realidade do período da contratação da obra, de forma que reflita da melhor forma as condições reais de execução. Na questão de programação financeira, promover as dotações orçamentárias e seus respectivos empenhos financeiros de maneira que não ocorram períodos de descontinuidade, potenciais causadores de acréscimos nos custos de execução”, finaliza.
Em 2016, a Racional Engenharia completou 45 anos. Foram cerca de 600 obras executadas, mais de 9 milhões de m ² construídos e muitas inovações. Ao longo de sua história, recebeu importantes reconhecimentos do mercado.
Um deles, especialmente, enche a empresa de orgulho: o prêmio de qualidade concedido pela Ford, quando da atuação da Racional na sua planta em Camaçari( BA), que a certifica a trabalhar para a marca em qualquer país do mundo. Mais recentemente, a Jaguar Land Rover reconheceu a construtora pela gestão da segurança do trabalho no canteiro de obras, após atingir a marca de 1 milhão e 300 mil horas sem acidentes com afastamento.
“ Costumo dizer que a confiança está em nosso DNA. Por meio dela con-
Confiança com 600 obras
quistamos uma carteira de clientes recorrentes, que veem consistência e coerência no que fazemos e entregamos. Mesmo com quase meio século de atuação, a Racional é uma empresa jovem, que se renova e que gosta do novo, buscando sempre antecipar tendências. Foi assim que alcançamos importantes marcos em nossa história e na história do construir no Brasil”, afirma Newton Simões, presidente da Racional Engenharia.
14 | | Julho / Agosto 2017