Edição 562 Julho/Agosto revistaOE562_V2b_11OUT | Page 10
C e
n á r I o s
Novos camin�os
O Brasil vive dias sombrios. A confi ança da população nas institui-
ções ofi ciais se deteriora a todo o momento, empresas outrora vistas
como “vencedoras” são delatadas em esquemas de corrupção e a eco-
nomia de forma geral vai de mal a pior.
Nesse cenário caótico, vislumbram-se para as construtoras do seg-
mento de obras públicas papel de fundamental importância na mu-
dança da relação promíscua, entre empresas e entes públicos, e que a
continuar pode levá-las ao colapso.
Esse papel pode ser visto como uma grande oportunidade de alterar
drasticamente a forma como tais organizações atuam nesse mercado
tão complexo e específi co.
Para que essa possibilidade otimista se torne uma realidade, é impe-
rativo que o mercado não aceite participar de obras sem projetos execu-
tivos, com orçamentos incompletos ou prazos inexequíveis.
Projetos básicos mal feitos ou com orçamentos incompletos estão
intimamente ligados aos desvios de conduta existentes no setor da
construção civil, pois é justamente para corrigir tais erros e tornar o
Reposicionamento da en�en�aria
Nos últimos três anos de engenharia e
construção vêm enfrentando a maior re-
cessão da história do País. A crise econô-
mica e política infl uenciou diretamente na
quantidade de projetos que de fato saíram
do papel nesse intervalo de tempo. Apesar
da drástica redução das oportunidades, os
custos das empresas se mantiveram e a
necessidade de capital de giro para iniciar
novos projetos cresceu. Devido a criticida-
de do momento, mesmo algumas companhias tradicionais do merca-
do deixaram de atuar.
À frente da Reta Engenharia, percebo que atualmente existe uma
boa quantidade de projetos em fase de maturidade avançada, que
permitiriam um rápido início da implantação. Mas ainda precisa-se de
um fator determinante para que isso aconteça que é o reestabeleci-
mento de um ambiente de negócios favorável, que dê aos investidores
maior segurança jurídica e, também, maior segurança com relação à
estabilidade econômica.
Neste momento, entendo que estamos migrando, ainda que de
forma discreta, de um cenário de profunda recessão para um cenário
que já apresenta sinais de retomada. Em meio a isso, penso que haverá
um reposicionamento das empresas de forma que, aquelas organi-
zações que conseguirem atravessar essa etapa turbulenta com uma
situação fi nanceira saudável, mantendo seu quadro técnico de pro-
fi ssionais e reforçando seus aspectos de governança e seus preceitos
com foco em valores como a ética e a transparência, serão as empre-
sas que terão melhores oportunidades de crescimento.
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empreendimento factível que se abrem
as possibilidades de corrupção.
As vultosas perdas oriundas dessas
práticas são também responsáveis pela
péssima imagem do setor, e oneram a so-
ciedade com atrasos ou paralizações em
obras de extrema relevância.
É óbvio que a forma como são ofere-
cidas as obras públicas ao mercado estão
longe de ser a única causa das mazelas
que se abatem sobre a economia e a sociedade brasileira. Porém, corrigir
isso seria um passo importantíssimo em direção a um Brasil mais justo
e correto.
Para salvar a engenharia nacional da morte certa, é imprescindível que
se mude o processo em sua gênese. Não há dúvidas de que projetos factí-
veis com orçamentos e prazos realistas trarão de volta a grandeza da en-
genharia nacional, tornando-a mais transparente, efi ciente e duradoura.
*Marcio Paulikevis dos Santos é diretor-presidente da Paulitec Construções
Seguindo este raciocínio, penso que em um curto espaço de tem-
po, de aproximadamente três a cinco anos, será construída uma nova
confi guração na relação das principais empresas de engenharia e cons-
trução do País. Organizações com as características relatadas no pará-
grafo anterior ocuparão as posições liberadas por empresas que deixa-
ram de atuar. Corporações brasileiras e estrangeiras que dispuserem de
capital de giro para fi nanciamento dos projetos, surgirão para formarem
novas associações e fusões a partir da combinação entre competência
técnica, equipe qualifi cada e princípios éticos de governança.
Outro ponto a ser considerado é o surgimento de uma nova forma
de relacionamento entre as empresas contratantes e contratadas. Penso
que a busca pela construção de relações mais equilibradas de contrato
com foco cada vez maior no benefício dos projetos deve ser constante.
Isso signifi ca que deve haver uma tomada de consciência buscando a
valorização dos projetos, em detrimento dos benefícios específi cos das
empresas envolvidas. Seria ideal para o bom desempenho de um projeto
que, a partir da assinatura do contrato, as partes envolvidas passassem
a entendê-lo como de responsabilidade de todos, e não apenas da parte
contratante. Isso signifi ca unir esforços para conduzir as obras da melhor
maneira possível, pois esse processo é capaz de trazer grandes benefícios
para o aumento do nível sucesso na implantação de projetos, que está
diretamente relacionado à maturidade das empresas envolvidas.
Em conclusão, penso que em breve teremos um novo momento no
mercado de engenharia e construção. E, as empresas que aproveita-
rem este período que o antecede para colocar em prática os aspectos
já mencionados, tais como a reestruturação dos processos, a valoriza-
ção da ética e da transparência e o equilíbrio das relações contratuais
terão boas oportunidades de crescimento.
*Ilso José de Oliveira é diretor-presidente da Reta Engenharia