Ed. 321 - completa Novembro / Dezembro - 2020 | Page 72

ce e as pantufas , que estiveram entre as estrelas do consumo no período da pandemia . Sobre a relação com os consumidores , a consultora afirmou que sustentabilidade é um atributo que ganha muita importância neste momento , além da transparência com o consumidor .
Como fazer para que as informações sobre investimentos em tecnologias que agregam valor aos produtos cheguem ao consumidor ?
Claudia Narciso lembrou a importância de ouvir os consumidores e fazer a leitura dos dados , a escuta ativa , o que é fundamental para o sucesso no atendimento de suas expectativas . Para isto , existem ferramentas fortes , como as redes sociais , que trazem engajamento e diálogo e criam a oportunidade de escutar e entender o que o cliente quer . Já Andressa lembrou que existem muitas lacunas , na maioria dos negócios , quando se fala em uso de dados , que são tão importantes quanto saber como usar de forma correta as redes sociais . As redes sociais exigem uma postura de passar para o consumidor o que ele quer receber . Elas precisam ser vistas como um lugar de conversar com o consumidor , e não para fazer panfletagem digital .
Chamando a atenção para um comportamento do consumidor menos focado em preço e mais em valor agregado , Eduardo Wüst questionou as debatedoras sobre a necessidade de que as marcas invistam em diferenciais de conforto e qualidade . Cláudia Narciso afirmou que houve uma redução da compra por impulso . A experiência de compra tem um conteúdo muito mais profundo hoje . O consumidor quer saber o que está por trás daquele produto e daquela marca , qual o engajamento , o envolvimento , a experiência que a marca está trazendo , independentemente do seu tamanho no mercado . “ O consumidor exige esta transparência na cadeia toda ”, destacou . Andressa Favorito , por sua vez , entende que a sustentabilidade é um tema que está crescendo não tanto pela nossa nobreza de espírito , mas muito mais pela necessidade . “ As pessoas não dispõem mais de tempo para sair em busca de novos produtos que vão virar lixo na natureza . Elas querem produtos mais duráveis . Além de falar que sua marca tem propósito , é preciso que as indústrias ouçam o consumidor , falando sobre as melhorias que precisam ser feitas ”, ressaltou .
Na mesma linha de raciocínio , Cláudia Narciso complementou dizendo que marcas que não fazem entrega não crescem . “ O produto conta a história da marca . Este é um compromisso que pequenos , médios e grandes precisam ter para com o consumidor . É preciso escutar o consumidor - o mais importante é ir para o ponto de venda e ouvir o que o consumidor tem para dizer ”, afirmou .
Sobre o desenvolvimento de tecnologias , Andressa comentou que a indústria calçadista é muito diferente da de vestuário no posicionamento no mercado internacional . Claudia falou de conhecimento técnico , capacidade produtiva , qualidade e produtos autorais . E mencionou o exemplo dos calçadistas italianos como referência . “ Eles têm toda uma tradição , e um produto que sempre nos inspirou e nos fez evoluir muito , não apenas o Brasil , mas o mundo inteiro ”, explicou . Andressa endossou a colocação de Claudia , lembrando que a indústria de calçados da Itália é um caso de inspiração na reação à concorrência do mercado asiático . “ Os calçadistas italianos foram gravemente impactados quando os asiáticos entraram no mercado europeu com preços muito baixos e com grandes investimentos no produto . A organização do setor italiano para ganhar força é um exemplo do que podemos fazer no Brasil , para que a gente não perca o grande privilégio que temos no Hemisfério Sul , de ter conhecimento técnico e tecnologias . Os calçadistas da Itália em vez de se verem como concorrentes , se uniram para se diferenciar e recuperar espaço nos mercados ”, descreveu . Andressa citou também exemplos de Portugal e Espanha , que passaram por processo similar , e se uniram para recuperar protagonismo no mercado internacional . E salientou que não tem como competir e chegar a preços de mercados competidores que ganham muitos incentivos de seus governos . A forma de garantir espaços é apostar em design e tecnologias e no trabalho em conjunto , com o compartilhamento de experiências . Ou seja , trabalhar em conjunto para ser um setor fortalecido no País .
Sobre a capacidade da indústria calçadista para atender o sonho do consumidor de usar moda com conforto , Claudia respondeu que isto já é uma realidade . “ O consumidor não aceita mais moda sem estar atrelada ao conforto , quer produtos que atendam suas necessidades . Se percebem valor no produto , pagam ”, determinou . Hoje , com a pandemia , uma das novas necessidades é tirar o calçado antes de entrar em casa . Então , precisa ser um sapato confortável e fácil de calçar e tirar , salientou Andressa .
Já Cláudia afirmou que , quando o produto não tem conforto , gera uma ruptura com o consumidor . Falou de transparência no relacionamento com o cliente , que deve ser comunicado sobre tudo o que é feito . A humanidade das marcas é uma tendência que está permeando todos os setores .
Nas considerações finais , Andressa afirmou que 2020 acelerou algo que estava incipiente , que é a consciência do consumidor em relação ao consumo . O que nos obrigou a sair da zona de conforto , mas é assim que surgem as transformações , e esta revolução precisava acontecer realmente . Adaptação à mudança é o mantra para pessoas e empresas .
Cláudia Narciso finalizou sua participação afirmando que nunca vimos um cenário tão desafiador , para todas as classes e para todos os empresários . O lado bom foi a tão sonhada transformação digital , que aconteceu de verdade em toda as gerações . Com isso as marcas , mesmos as pequenas , tiveram que evoluir e se adaptar .
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