Ed. 321 - completa Novembro / Dezembro - 2020 | Page 52

nos oferece todas as condições para mudarmos para uma indústria responsável e justa . Está na nossa mão .
Para isso , devemos falar de compliance , que é estar de acordo com as regras e leis externas e internas . Em panoramas incertos como o que estamos vivendo hoje há necessidade de adaptações nos códigos de ética e de conduta , com novos regramentos comportamentais , levando em consideração as legislações de saúde e de segurança ocupacional . Pensar também sobre a continuidade ou não da produção de algum item ou mesmo o uso de determinada matéria-prima , se isso não representa um risco para o futuro , a sobrevivência do negócio .
Em linhas gerais a utilização do compliance é para prevenção de eventuais irregularidades que possam afetar o desempenho , os valores e a reputação da empresa no mercado . A moda , ao lado da aviação e do turismo , é um dos três segmentos mais sucetíveis a queda de venda neste momento de crise causada pela pandemia do coronavirus . Então não podemos só pensar em como reestabelecer os negócios durante a pandemia , mas como consolidar esta recuperação pós-pandemia .
Uma das saídas é a exposição e o consumo consciente ambientalmente correto e socialmente justo e inclusivo a um preço justo , que são bandeiras que o setor já vinha levantando . Não querem mais o desperdício , o produto descartável , estamos em busca do conforto e isso vem sendo reforçado mais ainda neste momento de home office . As compras online estão privilegiando muito os artigos voltados ao conforto das pessoas . Também não se quer uma indústria de moda que escraviza a mão de obra , que não considera os direitos trabalhistas . Que a moda possa encontrar uma saída com empatia e respeito aos consumidores que ela já precisava com ou sem pandemia .
Iorrana Aguiar , fundadora da Agência Moda no Digital
pandemia trouxe muitas ressignificações na vida de todo

A mundo , inclusive na dela , que vinha desde 2011 estudando o digital por conta do comportamento de consumo . O segmento da moda já estava desgastado , precisando ser melhor estudado e repensado , com a pandemia e o isolamentoo digital foi catalizado . O consumo é inerente aos seres humanos , tem a ver com as nossas necessidades e vontades , que o tornam legítimo .

As pessoas estão dentro de suas casas , e têm necessidades específicas . Imaginem se tudo tivesse parado totalmente e não tivéssemos o instagram e o whatsapp para fazermos as nossas compras . Com o instagram e whatsapp se tem hoje uma microempresa e isso é auxiliado por um facebook weds , um google ads , que potencializam ainda mais o produto ao consumidor específico de uma forma mais direta . O mundo digital é muito democrático , onde se fala da horizontalidade , do socialmente justo , do sustentável , e a partir do digital se tem uma comunicação muito grande da marca com o consumidor , que antes era de via única .
As marcas muitas vezes recebiam um rótulo que nem era o seu de verdade , mas era o proposto pela agência e repassava esta comunicação para o consumidor , que tinha um papel mais passivo , mas a partir do momento que se tem a possibilidade de conexão , a comunicação empresa e consumidor passa a ser uma conversa e isso muda tudo para sempre .
O consumidor deixa de ser um alvo que só o que interessa é o dinheiro que ele tem . Este consumidor passa a ser visto e a ter voz e passa a ser convidado a entrar dentro dos laboratórios de criação das marcas , sala de produção , opinar sobre produtos que estão ainda em desenvolvimento , e ele se sente valorizado nesta conversa e até mesmo um co-criador , o que é maravilhoso , e as marcas , com esta relação , conseguem criar produtos cada vez mais assertivos . As relações se fortalecem entre a empresa e os consumidores das suas marcas .
No digital se vive hoje um mundo de narrativas , de story teling , através das quais as marcas estabelecem uma conversa que precisa ser de propósito , autêntica , honesta . Neste contexto , o produto chega a ser quase um souvenir da narrativa com o estabelecimento . Muitas marcas estão levantando bandeiras sociais de acordo com as suas verdades e aí tem vários casos , pois a moda , ao mesmo tempo que pode aprisionar dentro de códigos estéticos que muitas vezes oprimem , é também uma ferramenta que traz liberdade . Marcas que há algum tempo tinham uma comunicação dirigida para um determinado padrão de público , hoje o discurso e o campo de atuação é muito mais amplo , e isso tudo é muito rico e está ganhando ainda mais corpo através do digital . O ponto crucial é ter um consumidor que tem voz e é co-criador da oferta e , quando se fala em moda , este tempo de isolamento possibilita o resgate de uma moda extremamente criativa num contraponto ao fast fashion . Precisamos beber desta água de novo e se fortificar com a arte .
Se fala que as pessoas não vão voltar a comprar como antes , mas tenho minhas dúvidas porque tem um lado da moda que é psicológico . Estou aqui trabalhando e por mais que seja num contexto totalmente digital , tenho que vestir algo que vista a minha alma e que me mova para algo . É a minha pele , a minha autoestima . Se eu passar o dia de pijamas não consigo produzir . Eu vou incutir algo no meu cérebro a partir da minha roupa então eu acredito muito nesta moda arte .
52 • novembro | dezembro