Ed. 321 - completa Novembro / Dezembro - 2020 | Page 51

Felícia Assmar Maia , presidente da Costa Amazônia Associação de Costureiras e Artesãs da Amazônia

Criada para divulgar a marca autoral feita na região amazônica , percebeu que as pequenas marcas estavam perdidas por estarem fora do universo digital , estimulando o processo criativo .

O consumidor não vai mais ser o mesmo que era antes da pandemia ter se desencadeado , mas não se sabe exatamente como ele vai agir . O certo é que estamos em um momento de grande mudança mundial causada por uma crise sanitária que assola o planeta , que é diferente de outras crises econômicas , como por exemplo , a de 2008 , que ficou no plano financeiro . No caso atual , estamos enfrentando um processo epidêmico que tem desdobramentos em outras áreas e cujo objetivo principal , evidentemente , é a defesa da vida . Por ser altamente contagiosa , traz uma série de consequências para a saúde e para a economia mundiais . Os reflexos são percebidos no setor de transportes , mercado varejista e neste último se percebe um significativo aumento das compras por meio da internet . Cuidados com a saúde e respeito ao próximo , como o caso do uso de máscara , as empresas precisaram se reestruturar e estabelecer ações ágeis e sensíveis para adaptar- -se a esta mudança do mercado e do comportamento das pessoas e , em especial das compras digitais , exigindo que as marcas estabeleçam relações mais próximas e verdadeiras .
É fundamental estabelecer uma agenda positiva para a retomada dos negócios . Mas não é uma retomada lá na frente , quando se imagina que não haverá mais casos de contaminação , ou que uma vacina tenha sido lançada . Tem que se pensar no agora . Buscar novos parceiros , entrar no mundo digital . Adaptar-se ao sistema homme office , ter as ferramentas certas para o trabalho remoto , oferecer EPIs aos trabalhadores , treinar a equipe quanto aos hábitos de higiene e modos de preservação contra a contaminação pelo vírus , preservar a saúde de toda a equipe monitorando as pessoas e afastando casos suspeitos oferecendo o tratamento , realizar reuniões não presenciais para acompanhar o andamento do trabalho , criar transparência logística , estabelecendo uma lista de comportamentos .
Esta situação de compras digitais era uma tendência , o mundo já estava caminhando para esta realizade , a pandemia só encurtou o caminho . Os canais digitais estão aí para fortalecer o diálogo das marcas com os nossos consumidores . Somos cada vez mais dependentes das tecnologias que facilitam o nosso dia a dia , seja nas nossas relações de trabalho ou nas compras . As empresas estão aproveitando este período para reavaliarem os seus processos com foco na digitalização logística . Dependendo do setor o impacto do coronavirus é diferente . O setor de alimentos e do agronegócio , por exemplo , vêm experimentando aumento , mas outros segmentos estão sofrendo efeitos negativos .
Independente do setor em que a empresa esteja inserida , o planejamento e a gestão eficaz , neste momento , são essenciais para garantir que consiga suprir a demanda e não seja afetada num momento tão crítico .
No setor da moda , o segundo que mais emprega no Brasil , os impactos foram imensos . E não há uma previsão tão otimista de que quando tudo estiver normalizado a gente retome imediatamente . Mas , segundo pesquisa do Sebrae , embora o setor como um todo tenha uma queda de 74 % dos negócios , enquanto o varejo de moda diminuiu 80 %, as roupas e acessórios de moda estão entre os itens mais populares em meio as novas experiências de compras . Por isso , a indústria da moda deve aproveitar este tempo para se reinventar . A hora é de mudar o foco , não pensar na crise e nas contingências , mas reconstruir o negócio . Focar na compra com propósito , oferecer soluções para o consumidor , estímulo aos pequenos negócios locais e na produção sob demanda .
Utilizar as ferramentas digitais a favor da comunicação e das vendas , e entre elas o Instagram é um grande canal para estas duas estratégias de negócio . Também , com a flexibilização da circulação das pessoas , os espaços físicos precisaram se readequar oferecendo opções para a higienização , cobrar o uso de máscaras , trabalhar com poucos funcionários e controlar a lotação dentro dos estabelecimentos .
Uma das grandes inovações que este momento está trazendo para o setor da moda é a produção por demanda . A gente sabe que esta prática vai fazer com que haja uma demanda em tempo real , não havendo a necessidade de se ter grande quantidade de estoque - até porque cerca de 30 % de todos os produtos fabricados a cada ano não são vendidos e acabam muitas vezes indo para aterros sanitários . E temos que pensar nisso também , a sustentabilidade é algo que aparece com uma ênfase muito grande neste momento em que a gente está vivendo então vamos evitar os estoques inúteis . Precisamos construir uma indústria da moda mais estável e responsável , impulsionada pela criação . Isto também era algo que se vinha discutindo , colocando em cheque o fast fashion , por uma produção mais local , autoral , artesanal . Sem deixar de lado a ciência , que precisa fortalecer a arte . Sair da produção em larga escala para uma menor , sob demanda . Pode até ser doloroso , mas esta crise deve também ser usada para se construir uma indústria da moda mais responsável . Unir a produção por demanda com a inteligência artificial pode ser a saída para a moda neste momento .
Será um enorme prejuízo se insistirmos em preservar esta indústria irresponsável em um momento que
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