O QUE FAZEMOS
TEM ALGUM SENTIDO?
No momento em que se faz este editorial, de poucas coisas podemos ter certeza.
Uma delas é que o mundo já não é mais o mesmo e a mudança que se desenha
pela frente é radical, e a outra é que mesmo assim as pessoas continuarão a
precisar de calçados para protegerem os seus pés. De uma maneira geral, nos
dois primeiros meses deste ano, o mercado brasileiro vinha sinalizando o início de
uma recuperação, embora ainda muito tímida. O Governo Federal conseguiu avançar em algumas
pautas importantes para que a roda da economia começasse a girar. Em janeiro, tivemos uma
Couromoda e um Inspiramais, em fevereiro a feira 40 Graus, e em todas elas se pode constatar que
as expectativas dos organizadores, líderes das entidades setoriais, expositores e visitantes eram de
otimismo.
E havia embasamento para isso. A equipe econômica do Governo Federal trabalhou no sentido
de tornar os juros e o câmbio mais favoráveis, a reforma trabalhista conseguiu aprovar pontos
importantes, os governos estaduais também se esforçaram para criar programas de incentivos
fiscais em reconhecimento das dificuldades enfrentadas por diversos setores, incluindo o segmento
coureiro-calçadista, então havia, sim, motivos para o entusiasmo. Essa percepção teve continuidade
até o último mês de março, com a realização da Fimec. A feira aconteceu no momento em que os
primeiros casos de infecção pelo coronavirus começaram a surgir no País e já avançavam em um
ritmo preocupante na China e em países da Europa, principalmente. Daí para diante o panorama
todo mudou. O mundo praticamente parou, países implantaram o isolamento social para que as
pessoas pudessem cuidar da sua saúde e todos tivemos que passar a conviver com novas práticas
de relacionamentos e cuidados redobrados com a higiene pessoal e a preservação da saúde.
As empresas tiveram também que se reinventar, continuamos ainda a aprender como
sobreviver - tanto como pessoas físicas quanto jurídicas. Para vencermos os desafios que surgem
precisamos de serenidade e sabedoria. Por um lado, temos que olhar para a questão social, que
é o bem-estar dos nossos funcionários, de nossos fornecedores e demais parceiros, que são o
principal ativo das empresas. Por outro, temos que cuidar do caixa para que possamos honrar os
compromissos e mantermos os negócios saudáveis. E isso passa também pelo domínio das novas
ferramentas digitais. Por outro ainda, precisamos mostrar para
o mercado que a nossa existência enquanto marca e empresa
é importante. As pessoas continuarão a precisar de calçados.
Isso é fato. Mas será que elas precisam do calçado que estamos
oferecendo? O que fazemos faz algum sentido para elas? Quais são
os valores que passamos com nossos produtos e atitudes? E como
nos relacionamos também com o público interno? Esta crise que
se instalou no mundo, sem dúvida alguma, nos trouxe também uma
grande oportunidade para repensarmos os valores do nosso negócio
e como vamos superar tamanha dificuldade. Boa leitura!
Claudio Chies
Presidente do Conselho Deliberativo