Não é hora de demitir!
Marlin Kohlrausch
presidente do conselho da Calçados Bibi e
autor do livro A construção de uma marca com propósito
Estamos vivendo a 3ª Guerra Mundial.
Ela é diferente de tudo que imaginávamos.
As batalhas dessa guerra não
têm armas, bombas ou tecnologia nuclear,
nada disso. O inimigo é um só e, praticamente,
invisível. Estamos lutando contra o
Covid-19, causador da doença conhecida
como Coronavírus. Rapidamente, essa
luta se tornou global. Governos, empresas
e cidadãos estão atordoados, pois, sem
precedentes desta magnitude, não têm a
experiência necessária para embasar suas
atitudes. Mesmo em proporções diferentes,
eu que tenho 70 anos e já vivi muita coisa,
posso me valer da minha vivência para
enfrentar essa situação, ainda que seja
desconhecida.
Em momentos como esse, a maioria
sai perdendo e poucos ganham. Não é
hora de apontar culpados e se deixar levar
pelo jogo do empurra-empurra. Exatamente
quando a instabilidade financeira e
emocional atinge em cheio uma empresa
é que temos a oportunidade de saber qual
é o seu verdadeiro propósito. Fica evidente
se realmente o propósito das organizações
é “pra valer” ou é mais um discurso vazio,
enquadrado na parede.
Diante do isolamento social e da
velocidade e eficiência exigidas, primeiramente
pelas empresas do setor da saúde,
governos e setor produtivo de forma geral,
acredito que estamos diante do cenário
propício para o surgimento de inovações
importantes em todos os campos: processos,
serviços e produtos.
Trazendo essa reflexão para o ambiente
corporativo, não é hora de demitir!
Não é hora de comprometer a cadeia de
fornecedores. É hora sim de colocar a
inovação em prática, ou seja, de executar
novos modelos de forma rápida. Ao
mesmo tempo, a falta de resultado de uma
organização machuca, porém a falta de
caixa mata. Para que tudo isso aconteça é
necessário garantir o caixa e, para tanto,
praticar o bom senso.
Foco nas pessoas e nos clientes. Que
mudanças essa crise provocará no cidadão/consumidor
de amanhã? O que
podemos fazer para atender suas novas
expectativas e/ou necessidades. O que será
importante para ele? Haverá, sem dúvida,
uma demanda reprimida após o caos instalado.
Que demanda será essa?
Antecipar-se ao cliente e entregar valor
será sempre o melhor caminho para a
retomada. Seja por meio de novos processos,
serviços ou produtos. Por exemplo, não
restará mais dúvida sobre o crescimento
e a importância de processos digitais e de
análise de dados, que resultem em avaliação
e implementação rápidas.
Nesse cenário, cabe ao líder repactuar
a confiança de todos os envolvidos:
colaboradores, clientes, franqueados,
fornecedores, parceiros e comunidade.
Com transparência e crença no propósito
de cada marca é que se volta ao equilíbrio
e se prepara as empresas para o futuro,
seja lá qual for. Porém, primeiro é preciso
encarar as dificuldades e entender como
cada um de nós pode contribuir para
minimizar o caos. Na emergência é que a
cidadania corporativa e a solidariedade se
fazem ainda mais necessárias.
Mais uma vez, é responsabilidade do
líder a visão do futuro. Não apenas de seu
negócio, mas da sua comunidade e do
planeta. Não é fácil controlar as emoções,
mas minha recomendação é afastar a irracionalidade
que tomou conta das últimas
semanas e buscar sempre a coerência com
o propósito individual e da cada corporação.
É no propósito que estará o caminho
para as respostas mais difíceis.
90 • maio | junho