ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 78
emergem em relação ao conteúdo que circula na internet. A Forrester Research (LI, 2007), por exemplo, fala de
seis tipos de consumidores a partir da ideia de “tecnografia social”. Em uma escala crescente de atividade estão os
Inactives, Spectators, Joiners, Collectors, Critics33 e Creators. Estes papéis não são excludentes e um usuário pode ora estar
mais próximo de um, ora mais adequado a outro, ou mesmo realizando atividades simultâneas.
Nessa interseção está o papel dos curadores. A curadoria enquanto atividade socialmente distribuída é tema
de trabalho de Liu (2010), que distingue o papel do curador em várias atividades que podem estar presentes
simultaneamente. Para a pesquisadora, os papéis de arquivista, bibliotecário, preservacionista, editor, contador de
histórias, expositor e docente são oferecidos aos usuários de determinados artefatos web que também distribuem
estas atividades, resultando em uma espécie de conteúdo por crowdsourcing.
Entre os desafios para a curadoria de conteúdo on-line, o imperativo da visibilidade se torna um tentador desviante.
Esse processo ocorre, pois a curadoria é, quase que necessariamente, acompanhada de uma estrutura de nicho, para
públicos menores. Afinal de contas, não se trata apenas de reunir conteúdo em torno de uma mesma temática,
processo ou acontecimento, mas também selecionar este conteúdo. Desse modo, o próprio processo de seleção se
torna uma atividade marcada por um estilo próprio, que vai alcançar e agradar de modos diferentes determinados
grupos.
Assim, podemos falar de uma tensão entre o processo de curadoria, que vasculha textos e redes da cauda longa
(Anderson, 2006) em busca de dar destaque a informações selecionadas a partir de critérios qualitativos com a
necessidade, justamente, de alcançar escala. Ao conferir popularidade ao que é selecionado, editado e organizado,
podemos dizer que o curador alcançou um objetivo – dar visibilidade a determinadas entidades – que, logo, deve ser
renovado. Afinal, realizar curadoria envolve dar destaque ao que merece por algum motivo qualitativo e, quando o
público tem acesso ao que foi apresentado, o ciclo se renova.
Apesar de um tanto paradoxal, ver dessa forma o trabalho de curadoria, como uma busca constante pelo novo e
ainda não suficientemente valorizado, procura trazer o bom lado de outra inquietude intensificada pela web, o excesso
de informação. Se os artefatos culturais surgem, circulam e somem em uma velocidade memética, acreditamos que
o papel do curador é se aproveitar disso: dentro de um fluxo volumoso e ligeiro de conteúdo, poder escolher a dedo
“o quê” e “como” destacar.
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Tradução livre: Inativos, Espectadores, Ativos, Coletores, Críticos e Criadores.
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