ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 43
O crítico de arte, professor e curador Olu Oguibe (2004, p.07) afirma que até a segunda metade do século XX, a
figura do curador não passava de
um agente provinciano com uma referência estrutural limitada etnocêntrica, e também
excêntrica, sustentada pela autoridade da qualificação e especialização acadêmica. O
curador de arte contemporânea era um historiador da arte ou alguém com uma qualificação
em arte, história da arte ou estética, que na trajetória de seu treinamento e carreira se
interessou especialmente por um aspecto do período ao qual se dedicou, destinando seu
tempo ao estudo do trabalho produzido de uma forma ou técnica específica, tal como
pintura, desenho ou gravura, e, geralmente, tinha uma especialização em determinada
área geográfica.
A partir do final do século XX, OGUIBE (2004) descreve uma mudança no papel do curador das artes visuais na
sociedade, devido ao aumento do número de atribuições e de tipos de atributos sociais que extrapolam o conhecimento
sobre história da arte, estética, etc. As questões relacionadas à administração, à economia e ao mercado globalizado
da arte também são elementos que interferem nessa transformação. De acordo com autor, muda a forma de atuação
dos curadores, que deixam de ser vistos como especialistas ou “conaisseur” e passam a atuarem como mediador
social, seja entre as instituições (museus e galerias), os artistas e o público.
Essa diversificação e reconfiguração dos papéis do curador sofre a partir dos anos 60 do século XX – período
no qual o curador ainda era visto como alguém relacionado à Academia e à crítica de arte - tem como resultado:
visibilidade às obras e artistas e a legitimação e a construção de um discurso sobre as obras. Assim, o curador começa
a ser tratado, disscursiva e midiaticamente de várias formas, ora como connaisseur/ especialista, ora como corretor
cultural ou mediador.
Entre os anos 70 e 90, à medida que os acadêmicos e críticos se tornaram menos
influentes nas decisões sobre o destino da carreira do artista – especialmente na cultura
metropolitana –, o curador começou cada vez mais a definir a natureza e a direção do gosto
na arte contemporânea – tanto assim que, na virada para o século XXI, o curador passa
então a representar a figura mais temida e talvez a mais odiada da arte contemporânea.
43