ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 35

Como contraponto, não podemos deixar de notar o questionamento que se faz sobre o uso do termo curadoria como apenas a mais contemporânea forma de rotular as atividades desde sempre exercidas pelos comunicadores: mediação, edição, seleção, divulgação, opinião, entre outras. Em Facts are Sacred: The power of data, editado pelo jornal britânico “The Guardian”, Rogers (2011) revela que a curadoria realizada por um especialista (o jornalista, no caso) prevê habilidades bem distintas, entretanto: inclui horas compilando e analisando dados em tabelas Excel e documentos em PDFs disponíveis na internet, procurando um padrão informativo e com valor-notícia para, então, a partir desse trabalho, criar um conjunto informativo perspectivado de uma maneira até então inédita (2011, loc. 64) . O autor afirma que a abundância de dados digitais transformou o jornalismo e, por extensão, a própria comunicação. O chamado jornalismo de dados (data journalism) torna-se, muitas vezes, curadoria, como afirma: O jornalismo em base de dados transformou-se em curadoria? Algumas vezes, sim. Hoje existe tal quantidade de dados disponível no mundo que procuramos oferecer em cada noticia os fatos principais – e encontrar a informação correta pode se transformar numa atividade jornalística tão intensa quanto buscar os melhores entrevistados para uma matéria (...) Qualquer um pode fazer isso... Especialmente com ferramentas gratuitas como o Google Fusion Tables, Many Eyes, Google Charts ou Timetric – e você pode acessar postagens dos leitores no seu grupo do Flickr (...). Mas, a tarefa mais importante é pensar sobre os dados obtidos mais como jornalista do que como um analista. O que é interessante sobre tais dados? O que é novo? O que aconteceria se eu mesclasse com novos dados? Responder tais perguntas é da maior importância. Funciona se pensarmos numa combinação disso tudo. (Rogers, 2011, loc. 56-71, tradução livre e grifos nossos). O autor Steven Rosenbaum (2011) preconiza uma curadoria ampla na sociedade, mesclando cidadãos, profissionais, ferramentas e plataformas, sem qualquer distinção de função ou necessidade. Para ele, a rede e seus usuários se autoformatam. Nessa linha, temos a discordar quanto a não consideração das possibilidades de exploração comunicacional desse processo curatorial hoje disponível em rede. Por outro lado, a professora da FAU/USP Giselle Beiguelman nos oferece alguma ordenação das atividades da curadoria digital que podem sustentar nossas colocações. Em palestra junto ao grupo de pesquisa COM+ da ECA-USP (2011, on-line) propõe três tipos de atividades curatoriais nas quais podem se inserir os comunicadores: o curador como filtro, representado pela frase “eu sou o que eu linko”; o curador agenciador com a frase “as coisas são como eu as linko”; e o curador como plataforma com a frase “as coisas são como você linka”. Se fizermos uma correlação 35