ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 33
Ao refletirmos sobre a curadoria comunicacional da informação partimos do pressuposto de que o profissional
da comunicação, por vivenciar a proximidade com aquele que quer e deve ser informado, possui um cabedal de
variáveis importantes sobre processos de escolha, gostos, direcionamento da formação de opinião, variação de padrões
sociais, entre outros dados, que possibilitam o uso de modelos algorítmicos menos uniformizantes e, portanto, mais
adequados à função social do campo da Comunicação.
3. O comunicador como curador
O histórico dos significados da curadoria coloca como denominador comum a intervenção humana no processo
de selecionar, organizar e apresentar, mesmo que ocorra o suporte de algum sistema automatizado. Nessa linha,
evidenciamos para o curador duas dimensões de ação: aquela da re-mediação, que agrega o valor pessoal ao conteúdo
trabalhado; e a de design de relações, que propõe a disseminação do material re-mediado.
Pensando nas dimensões de ação da curadoria de informação, é possível inferir que, apesar da possibilidade
potencial do exercício da curadoria por qualquer cidadão conectado, no campo da comunicação digital tal potencial
é reduzido ao conjunto de profissionais que transitem em domínios simultâneos da arte do re-mediar (= interconexão
de mídias), do estabelecimento de relações interpessoais pró-ativas (= seleção de públicos ou audiências), da concepção
ou uso de plataformas tecnológicas para tratamento e disponibilização de dados (= recorrência a bases de dados),
e principalmente, da capacidade intelectual e informativa para curar de modo único e diferencial (= agregação de
valor). Todo esse conjunto de competências pode ser associado aos algoritmos, de forma que não apenas entre em jogo
o histórico passado de apropriação e preferências informativas por parte do usuário, mas ainda, e principalmente,
o resultado dessas ações específicas do comunicador.
Sobre a re-mediação, importante retomar Bolter & Grusin (1999) e Fiedler (1997). A produção de conteúdos nas
mais diversas plataformas tecnológicas a que assistimos hoje é decorrência do mesmo processo de comunicação que
sempre pautou a sociedade, passando apenas por adequações de coevolução, coexistência e complexidade por conta
da inovação, e da possibilidade de contextualização instantânea via hipermídia.
O processo de re-mediação informativa que a rede digital consolidou amplia as possibilidades de correlações
de conteúdos, uma atividade típica do curador de informação. O que inferimos é que a curadoria comunicacional
pode se favorecer da evolução tecnológica, mas ela não é fruto de um determinismo. Ao contrário, ela é uma ação
deliberada de quem assume papéis de re-mediação na sociedade, seja um ativista, um blogueiro, um pesquisador, um
jornalista ou um comunicador.
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