ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 25
1. Abundância informativa
Excesso informativo, ansiedade de informação, dieta informativa (Turkle, 2011, p. 242; Pariser, 2011; Johnson,
2012) são expressões que começaram a surgir na década de 1970 do século passado7 e, desde então, passaram a ser
incorporadas no discurso de pesquisadores da comunicação e, cada vez mais, nas conversas de não especialistas no
assunto. Reflexo de um momento em instituições científicas acadêmicas, escolas, bibliotecas, museus, organizações,
e corporações de toda espécie -- e não somente os meios tradicionais de informação e comunicação -- partilham dados
digitais na rede, multiplicando a oferta informativa para seus indivíduos.
Constatam-se uma abundância informativa e uma disseminação de múltiplas narrativas sobre os acontecimentos
do mundo, criadas a partir de distintas fontes, e apresentadas em formatos para todos os gostos. Contudo, inexiste
a garantia de transformação de dados em informação e tampouco estes em conhecimento por parte do homem8.
O especialista em mídia Neal Gabler (2011) chega a afirmar que a sociedade vive na era da pós-ideia, ou seja, os indivíduos
se tornaram grandes acumuladores de fatos e informações, mas já não conseguem desenvolver um pensamento
crítico e profundo sobre um fato. O comentarista de mídia declara que a era digital nos libertou para “a ignorância
bem informada”.
Weinberger (2012) identifica neste cenário de information overload uma “crise de conhecimento”. Para o autor, as
informações permaneciam clara e concretamente localizadas (em livros, bibliotecas, jornais) e permitiam a construção
do conhecimento por meio de “trabalho duro” de estudiosos que se tornavam, por consequência, especialistas
em assuntos. No contexto digital, vive-se o oposto, segundo o autor: as informações encontram-se espalhadas
desordenadamente; são produzidas por amadores, plagiadores e usuários que consideram um bom conteúdo aquele
que possui o maior número de polegares indicando “curtir”. Ainda assim, reitera, os meios de comunicação, as
empresas, os governos e a ciência se beneficiam dos dados disponíveis na rede, sobretudo por conta das contribuições
de leitores que, ao colaborar com o processo, tornam os dados muito mais encontráveis e compreensíveis por outros
tantos leitores. (2012, loc. 126-132).
Ou seja, a crise do conhecimento nasce numa época de exaltação do conhecimento. O conhecimento em rede,
embora menos acurado, torna-se “mais humano”:
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Alvin Toffler introduziu a idéia de excesso de informação em 1970 com a publicação de seu livro O Choque do Futuro.
Referenciamos aqui a famosa pirâmide DIKW (dado, informação, conhecimento e sabedoria) criada em 1988 pelo pesquisador Russell Ackoff.
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