Dragões #447 Fev 2024 | Page 36

CLUBE
Os primeiros atos eleitorais do FC Porto realizaram-se na sede da Rua da Rainha , hoje Rua Antero de Quental
Ernesto de Oliveira teve 23 e Manuel Mesquita dois ; em 1922 , nas eleições mais disputadas deste período , Eurico Brites derrotou Artur Bastos Leite com 66 votos contra 41 . Na transição da década de 1910 para a de 1920 , parece haver uma correlação entre o número crescente de participantes nas assembleias e o aumento da competitividade eleitoral . As atas dão conta de três situações de alguma discórdia no âmbito de eleições deste período . Em setembro de 1911 , por haver dúvidas sobre a idade de um associado , discutiu-se qual deveria ser a idade mínima para se poder votar , acordando-se que a barreira devia ser estabelecida nos 18 anos . Em 1924 , pela primeira vez , um sócio propôs que não se realizasse a eleição nos termos habituais , mas que se reconduzisse os titulares dos órgãos sociais em funções por aclamação . A proposta acabaria aprovada , apesar de ter suscitado reações minoritárias adversas ou ambíguas : houve inclusivamente um sócio , Manuel Mesquita , que declarou que “ em seu entender é ilegal a reeleição da direção por aclamação , declarando , porém , que não se opõe à sua eleição por aclamação ”. No ano seguinte houve “ diversos protestos ” por não estarem presentes os cadernos de recenseamento , sendo a participação controlada unicamente através do “ cartão de identidade ” dos associados . A análise dos dados sobre as eleições do FC Porto entre 1907 e 1925 não permite identificar reflexos no clube da mudança de regime político . A transição da monarquia para a República não implicou qualquer alteração na forma como eram escolhidos os corpos gerentes , o que não significa que a instituição vivesse alheada dos grandes acontecimentos nacionais – apesar de o artigo 38 dos primeiros estatutos impor uma rigorosa neutralidade política : “ É expressamente proibida a ingerência do clube em quaisquer assuntos de política interna ou externa ”. Curiosamente , 9 de outubro de 1910 , o primeiro domingo depois da revolução que derrubou a monarquia , era dia de eleições no FC Porto . Terão aparecido muito poucos sócios – não se sabe quantos – na assembleia geral , o que , de acordo com o seu presidente , deveria acontecer “ em virtude dos últimos sucessos políticos ”. Foi proposto e unanimemente aceite , por isso , o adiamento do ato por uma semana . A 16 de outubro de 1910 , José Monteiro da Costa foi reeleito pela segunda vez . E a vida do clube , democrática desde a origem , continuou sem que mais sobressaltos políticos tivessem implicações nas eleições .
36 REVISTA DRAGÕES FEVEREIRO 2024