Dragões #436 Mar 2023 | Page 31

“ QUANDO CHEGUEI ERA LATERAL E FUI AVANÇANDO . SE UM DIA FOR UM GRANDE JOGADOR , ACREDITO QUE SERÁ A NÚMERO 10 , MAS ACHO QUE PASSAR PELAS OUTRAS POSIÇÕES ME AJUDOU BASTANTE , PRINCIPALMENTE EM CERTOS DETALHES .”

Como iniciou o percurso no futebol e porque escolheu esta modalidade ? Comecei no futebol pelas escolinhas aos sete anos . Dos cinco aos dez fiz natação e aos sete fui para o futebol . Porquê o futebol ? O futebol dá mais dinheiro [ risos ] e era o meu gosto . Em casa não brincava com algo relacionado com a natação , era sempre futebol . Brincava com meias , luvas , fingia-me guarda-redes e a minha mãe reclamava tantas vezes comigo , mas acho que nunca parti nada .

Quão importantes foram os seus pais nesta caminhada ? Os meus pais sempre me apoiaram . Se cheguei aqui , devo-lhes tudo e não a mim . Claro que me esforcei , mas se não fossem eles a acreditarem em mim e a darem-me tudo o que puderam , hoje não estaria aqui .
Deu os primeiros toques no Paços de Ferreira . Como se deu a mudança para o FC Porto ? Ao início tive receio de vir para aqui . Gostava do Paços e de estar com os meus amigos . A minha irmã obrigou-me a vir para o FC Porto , porque ia ser melhor para mim e eu fiquei triste , porque não queria deixar os meus amigos , mas aceitei e foi a melhor opção da minha vida . Percebi isso logo no início , porque me receberam muito bem e a minha maneira de ser , brincalhão , também facilitou .
O que mais mudou nos últimos nove anos ? Era mais traquina , muito mais . Falava muito mais do que falo e já falo muito . Era um bocadinho pior jogador , agora estou melhor e também melhor pessoa . Foi uma evolução , estar nesta cidade também não foi fácil , porque tinha de vir para a escola e estava longe dos meus pais , mas habituei-me , as pessoas aqui são espetaculares e todas humildes onde quer que vá .
Qual é a melhor memória que guarda da formação ?
Tenho uma do jogo contra o Benfica , que ganhámos por 3-2 em casa , no ano passado . Vinha de uma fase em que não estava a jogar tanto , o treinador colocoume em campo contra o Benfica , era um jogo importante e foi espetacular . Marquei dois golos , foi um sentimento incrível , ainda para mais ganhámos o jogo .
Quem são as suas referências na equipa principal ? A minha maior referência e em quem me revejo mais é sem dúvida o Taremi . Outro jogador de que também gosto e com quem me acho um bocado parecido é o Otávio pela minha maneira de ser e pelo que vejo dele em campo .
Estreou-se no ano passado pela equipa B . O que sentiu na estreia e como se adaptou ao futebol profissional ? A primeira vez que entrei foi em Santa Maria da Feira , num jogo complicado . Senti-me bem durante o jogo , estava bem fisicamente e numa boa fase nos sub-19 , mas depois do jogo , talvez pelos nervos , tive uma gastroenterite quando vinha para casa [ risos ].

“ QUANDO CHEGUEI ERA LATERAL E FUI AVANÇANDO . SE UM DIA FOR UM GRANDE JOGADOR , ACREDITO QUE SERÁ A NÚMERO 10 , MAS ACHO QUE PASSAR PELAS OUTRAS POSIÇÕES ME AJUDOU BASTANTE , PRINCIPALMENTE EM CERTOS DETALHES .”

Os treinos são mais intensos , há menos espaço para pensar . Agora já me sinto mais preparado .
Já o vimos jogar a médio , a extremo , a segundo avançado e a ponta de lança . Como se define em campo ? Eu quero é jogar , jogo em qualquer posição . Vejo-me mais no futuro como segundo avançado ou número 10 , mas já joguei em várias posições neste clube , acho que em todas do meio-campo para a frente . Quando cheguei era lateral e fui avançando . Se um dia for um grande jogador , acredito que será a número 10 , mas acho que passar pelas outras posições me ajudou bastante , principalmente em certos detalhes . Dentro do campo não se tem noção , mas jogar noutras posições faz-nos ver outras coisas que , se calhar , a jogar sempre na mesma posição não se percebe tanto .
Muitos jogadores da equipa principal foram apanha-bolas quando eram mais jovens . O Jorge também já esteve nessa posição . Já viveu algum momento especial nessa situação ? A minha primeira oportunidade foi num jogo em casa , com o Marítimo . Como era o mais recente , fiquei na linha morta , que é onde há menos bolas . A minha melhor história foi precisamente aí , num FC Porto- Sporting : na altura , o lateral era o Diogo Dalot e ele jogou ali na segunda parte . Quando estava a atacar , ele veio à minha beira e disseme algo como “ Dá-me a bola , puto !”. Adorava-o por ser o jogador que era e por ter conseguido o que conseguiu . Eu , todo feliz , dei-lhe a bola à mão e foi um momento que me marcou .
Estando na equipa B , vê as chances de chegar à A aumentarem . Já pensou como seria jogar e marcar pela equipa principal ? Sonho com isso todos os dias . Marcar e começar a correr para os adeptos , atirar-me para cima deles . Acredito nisso , mas tenho de ter os pés bem assentes na terra . Tenho de trabalhar e de crescer , porque jogar numa equipa como o FC Porto é difícil e espero estar preparado para mostrar o meu valor quando isso acontecer .”
31 REVISTA DRAGÕES MARÇO 2023