TEMA DE CAPA
Escudo da resistência
Outubro é o mês da celebração do emblema do FC Porto tal como o conhecemos hoje . Aprovado em 1922 , o símbolo que liga ainda mais o clube à cidade completa 100 anos .
TEXTO e FOTOS : MUSEU FC PORTO
Na noite de 26 de outubro de 1922 , o FC Porto reuniu-se em assembleia geral extraordinária , convocada pela Direção , para discutir e aprovar duas propostas com profundo impacto na imagem e na identidade azul e branca . O serão , na sala do Centro Comercial do Porto , à Praça Guilherme Gomes Fernandes , foi animado pela discussão de quase três horas entre os sócios presentes . Quando a reunião terminou , o brasão da cidade do Porto passou a fazer parte do emblema do clube . A ideia de um novo símbolo , a incluir as armas da Invicta , já tinha muitos meses de ponderação e até transitou entre duas Direções , presididas , respetivamente , por António Cardoso Pinto de Faria ( 1920-1922 ) e Eurico Brites ( 1922-1923 ). Quando os sócios do FC Porto foram chamados a aprovar a mudança , havia já para apresentar o emblema forjado no fogo da criatividade de Augusto Batista Ferreira , o célebre “ Simplício ”, avançado da casa e artista gráfico de profissão . Simplício foi simples e eficaz : sobre a bola azul que era o emblema anterior , sobrepôs o brasão da cidade , que o FC Porto estava autorizado a utilizar , por deliberação da Câmara Municipal do Porto . Na assembleia extraordinária de 26 de outubro , como se percebe através da ata da reunião , houve mais uma proposta em cima da mesa , levada pelo sócio Júlio Ferreira , mas viria a prevalecer o projeto da Direção , aprovado por unanimidade .
Ao vice-presidente Victor Hugo da Cal ( irmão de Alexandre Cal : atleta , dirigente e primeiro treinador português da equipa principal de futebol do clube ) coube a responsabilidade de apresentar o emblema concebido por Simplício e dar explicações numa assembleia em que também foi a votos a criação de um novo estandarte oficial do clube . Tanto o símbolo como , e sobretudo , a bandeira , potenciaram questões dos sócios : devia o FC Porto promover uma espécie de concurso público ? Devia o FC Porto socorrer-se de especialistas em gráfica antes de haver qualquer decisão ? Victor Hugo da Cal contrapôs com a necessidade de uma decisão urgente e mostrou que a Direção também era avessa a isolar-se na responsabilidade da escolha , rejeitando uma proposta que pretendia atribuir esse poder aos dirigentes . A bandeira , tal como a conhecemos hoje , seguiu o mesmo caminho da unanimidade do emblema , que há 100 anos identifica o FC Porto em todo o Mundo . Em 1940 , por instrução da Administração Central , a simbologia dos municípios , das associações e outras organizações foi radicalmente alterada , e o concelho do Porto não escapou ao decreto . Mas no burgo invicto , nobre e leal nem todos alinharam pelo unanimismo forjado , que impôs , no caso portuense , o desaparecimento de muitos elementos nas armas da cidade , como a figura do dragão . O FC Porto posicionou-se entre os resistentes , preservando no seu emblema o antigo brasão do Porto .
* Texto originalmente publicado na edição de outubro de 2017
30 REVISTA DRAGÕES OUTUBRO 2022