Dragões #430 Set 2022 | Page 40

IMORTAIS

Carlos Duarte

O EXTREMO

QUE DEIXAVA

MALUCOS

OS DEFESAS

25 DE MARÇO DE 1933 - 23 DE AGOSTO DE 2022
Era fã de Di Stéfano , tinha “ um drible rapidíssimo em movimento ”, ganhou quatro troféus entre dois períodos de seca e foi um dos ídolos da juventude de Jorge Nuno Pinto da Costa . Esta é a história de Carlos Duarte , o extremo das décadas de 1950 e 1960 que morreu a 23 de agosto , aos 89 anos de idade .
TEXTO : DIOGO FARIA

Se entendermos que na história do futebol do FC Porto há um antes e um depois do momento em que Jorge Nuno Pinto da Costa e José Maria Pedroto assumiram a direção desportiva e técnica da secção , em 1976 , os anos entre 1956 e 1959 constituíram uma espécie de oásis no clube pré-moderno . As conquistas , nessas temporadas , de duas edições do campeonato e de outras duas da Taça de Portugal estão encravadas entre um jejum de 16 anos sem títulos e outro de 19 sem a principal competição nacional . A morte de Carlos Duarte , a 23 de agosto , marcou a extinção de uma geração dourada que fez a ponte entre as épocas fabulosas de Dorival Yustrich e de Béla Guttmann , responsável

pelas maiores alegrias que os adeptos do FC Porto puderam viver em praticamente 40 anos . A 19 de março de 1933 realizouse o plebiscito que aprovou a Constituição do Estado Novo e consagrou a inviolabilidade do Império Colonial Português . Menos de uma semana depois , Carlos Domingos Duarte nasceu em Calulo , na maior das colónias desse império – Angola –, filho de Estêvão Domingos Duarte e Inês Cordeiro . Aos 19 anos de idade , depois de dar nas vistas ao serviço do Atlético e do Ferrovia de Nova Lisboa – clubes da atual cidade de Huambo –, embarcou num paquete rumo à metrópole e ao FC Porto . A bordo , ainda ouviu o relato do jogo de inauguração do Estádio das Antas , vencido pelo Benfica . Não tinha como
imaginar que dois anos depois viria a ser um dos protagonistas da vitória azul e branca no encontro de estreia do Estádio da Luz . Carlos Duarte não foi o único jogador natural das colónias contratado pelo FC Porto por essa altura , três anos depois de uma digressão a África que ficou conhecida como “ Caravana da Saudade ”: de Angola também chegou Miguel Arcanjo , de Moçambique vieram Albasini e Perdigão . Mas foi o extremo que começou a destacar-se mais cedo : estreou-se com um golo num jogo organizado pela Associação de Futebol do Porto na Póvoa de Varzim e concluiu a primeira época em Portugal com 21 jogos disputados e nove golos marcados . No ano seguinte , os números voltaram a ser
relevantes : 19 jogos , dez golos . A assistir a estes desempenhos nas bancadas e a desenvolver uma admiração profunda por Carlos Duarte estava quase sempre um jovem portista chamado Jorge Nuno Pinto da Costa . Setenta anos depois , o presidente do FC Porto lembra-se bem do “ jogador fantástico ” que tinha “ um drible rapidíssimo em movimento e fazia muitos golos ”. E até o compara a um atleta mais recente , para que quem não o viu possa ter uma ideia de como jogava : “ Era como o Corona de 2019 / 20 , quando foi Dragão de Ouro . Fazia coisas incríveis e deixava os defesas malucos ”. Com uma vantagem sobre o extremo mexicano : “ Marcava mais golos ”. Carlos Duarte encantou os adeptos do FC Porto durante 12
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